A era dos grandes físicos americanos termina nesta sexta-feira, com a aposentadoria do acelerador de partículas Tevatron, que há 25 anos recria o Big Bang no subsolo de Illinois, nos EUA.
O Tevatron ficou obsoleto após o aparecimento de um colisor de átomos mais poderoso --na verdade, o maior do mundo--, construído nos Alpes, na fronteira franco-suíça, pela Cern (Organização Europeia para Pesquisa Nuclear, na sigla em francês), um consórcio de 20 países-membros.
Parece improvável que os Estados Unidos, que já dominaram a área e colheram os louros de descobertas e inovações tecnológicas, sejam capazes de reunir os recursos necessários para construir o próximo grande projeto da física de partículas.
A razão: simplesmente o financiamento de longo prazo parece muito difícil de aparecer.
Ao invés disso, físicos americanos se concentrarão em questões internas mais específicas --e menos caras-- e trabalhar em conjunto com a Cern em projetos de alta energia, como a busca pela denominada "partícula de Deus".
"Na nossa área, não damos com a cabeça na parede se somos superados por outra máquina", declarou Pier Oddone, diretor do Fermilab (Laboratório Nacional Fermi), que opera o Tevatron.
"A ideia é mudarmos para aquelas áreas nas quais podemos fazer as maiores contribuições para o conhecimento", disse Oddone à AFP.
"Às vezes, as maiores descobertas vêm de projetos menores", argumentou.
A aposentadoria do Tevatron ocorre em um momento ruim para a ciência americana.
A Nasa lançou seu último ônibus espacial em julho. O financiamento público está diminuindo devido a uma profunda crise econômica e a batalhas orçamentárias no Congresso. Além disso, a própria ciência se politizou, com a descrença na evolução e a contribuição humana ao aquecimento global posta em discussão pelos republicanos.
Os cientistas do Fermilab dizem não poder prever o que os Estados Unidos perderão cedendo o domínio da Física de alta energia para a Europa.
Já os ganhos obtidos com o Tevatron são muito mais fáceis de quantificar.
"O Tevatron deu contribuições fenomenais para a Física de partículas", explicou o diretor-geral do Cern, Rolf Heuer.
"No topo da lista deve aparecer a descoberta do quark top em 1995, mas há muito mais", acrescentou.
Além de aprofundar nosso conhecimento sobre os mistérios fundamentais do universo, o Tevatron também levou a uma série de avanços mais concretos.
Entre eles está o uso generalizado da geração de imagens por ressonância magnética (MRI, na sigla em inglês) para diagnósticos médicos.
Os supercondutores utilizados nos magnetos das máquinas de MRI eram raros e caros demais até que o Fermilab criou uma indústria com o Tevatron, gerando uma demanda de fios de supercondução suficientes para dar a volta na Terra 2,3 vezes.
Atualmente, os cientistas estão construindo uma câmera de energia escura, que será capaz de varrer a galáxia mais rápido do que qualquer outro telescópio. Sua função será descobrir porque a expansão do universo acelera ao invés de recuar.
Eles também trabalham na construção do feixe de neutrinos mais poderoso do mundo, que ajudará a explicar por que o Universo tem mais matéria do que antimatéria e aprofundar nosso conhecimento sobre suas partículas mais abundantes.
O projeto X, caso seu financiamento seja assegurado, será o acelerador de prótons mais intenso do mundo.
"Estamos em uma posição, aqui nos Estados Unidos, de realmente consolidar nosso papel de liderança na elucidação da fronteira de intensidade e o Projeto X realmente nos dá a plataforma para fazê-lo nos próximos 20 ou 30 anos", disse Henderson.
"Se os Estados Unidos não o fizerem, estou certo de que alguém o fará por nós", concluiu.
FOLHA