quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Morte de juíza foi planejada desde o início do ano, diz inspetor

A morte da juíza Patrícia Acioli, assassinada no dia 11 de agosto, vinha sendo planejada pelos policiais do GAT (Grupo de Ações Táticas) de São Gonçalo deste o começo do ano, disse em depoimento o inspetor José Carlos Guimarães, da Delegacia de Homicíos, um dos policiais a frente do caso.

Ele foi a quarta testemunha de acusação a prestar depoimento na audiência de instrução sobre o caso, desta quarta-feira, na 3ª Vara Criminal de Niterói, no Rio de Janeiro.

Segundo Guimarães, Acioli decretou a prisão por envolvimento em um auto de resistência forjado do major Bezerra, braço direito do tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira. O que desagradou o coronel e os policiais do GAT de São Gonçalo.

Segundo o depoimento de Guimarães, que relatou informações colhidas durante a investigação policial.

Nesta época, ainda de acordo com o inspetor, a juíza também passou a falar que poderia prender Oliveira e que recebia ameaças de morte dele. Em seu depoimento, Guimarães relatou informações colhidas durante a investigação policial.

Segundo ele, com a prisão de Bezerra, o tenente Daniel Santos Benitez Lopez, começou discutir com os policias do GAT sobre a necessidade de matar a juíza e o policial civil Ricardo Henrique Moreira, que também investigava casos de autos de resistência e corrupção no batalhão. A ideia foi aprovada pelos outros policiais.

PLANO

Os policiais do GAT consideravam uma covardia "ficar mexendo" em casos antigos. Guimarães relatou uma conversa que o cabo Jeferson de Araujo Miranda -um dos policiais delatores - disse que Benitez teve com o tenente-coronel Oliveira aprovando o assassinato.

No relato de Miranda, Benitez pergunta o que Oliveira acha de matar o inspetor Ricardo, e Oliveira responde: "Covardia combate-se com covardia". Benitez teria então perguntado: "Isso se estende à juíza?" E Oliveira responde: "Aí você me faria um favor".

Ainda segundo o depoimento de Guimarães sobre as investigações do caso, o plano inicial era trazer dois milicianos da praça Seca, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio, para executar o crime. Os policiais do GAT concordaram em abrir mão do suborno semanal de cerca de R$ 12 mil que recebiam para pagar os criminosos.

No começo de junho ocorreu a prisão de dois policiais da equipe de Benitez, por ordem da juíza Patrícia Acioli, pelo forjamento de outro auto de resistência, o que levou os policiais a questionarem quando iria ocorrer o assassinato.

Sempre segundo Guimarães, Benitez teria afirmado então que não estava conseguindo falar com os milicianos e apresentou um novo plano: ele mesmo e outros policiais do GAT iriam matá-la.

Os policiais teriam tentado matar Acioli duas vezes antes de conseguirem, na terceira.

AUDIÊNCIA

A Justiça pretende ouvir 14 testemunhas de acusação do caso em audiências entre hoje e amanhã.

Entre os dias 11, 16 e 17 de novembro devem ser ouvidas 130 testemunhas de defesa e, no dia 18 de novembro, os 11 réus serão ouvidos.

Dois dos réus - o tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira e o tenente Daniel Benitez Lopez- estão presentes na audiência de hoje. Lopez chegou á audiência durante os depoimentos, cumprimentou amigos e parece tranqüilo.

O filho adotivo de Acioli também acompanha os depoimentos.

ASSASSINATO

A magistrada foi morta no dia 11 de agosto com 21 tiros quando chegava em casa após um dia de trabalho. Segundo investigações, a juíza passou a incomodar o grupo de policiais militares quando foram iniciadas investigações sobre a corrupção no batalhão de São Gonçalo.

A decisão de matá-la foi reforçada após dois integrantes do GAT (Grupo de Ações Táticas) serem presos sob suspeita do assassinato de Diego Beliene, 18 - os PMs eram investigados pela suspeita de terem forjado a morte de Beliene como sendo "auto de resistência", como são classificadas pela PM as mortes de suspeitos em confrontos. Os outros agentes passaram a ser investigados pelo crime.

FOLHA