Ao divulgar anteontem as suas projeções para a economia, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) criticou o modelo econômico que privilegia o consumo. Há muito tempo vimos alertando para o risco dessa política de estimular o consumo doméstico a ponto de a indústria interna não poder acompanhá-lo, o que leva ao aumento das importações.
Esse modelo parecia agradar até agora ao setor manufatureiro, mas levou paulatinamente a um processo de desindustrialização que se amplifica a cada ano.
Se o governo estimula a demanda, cabe à indústria oferecer produtos a preços cada vez mais atraentes e com um conteúdo tecnológico mais avançado. Para responder a esses dois requisitos, a indústria doméstica chegou à conclusão de que devia importar, tanto os componentes produzidos no exterior a um preço muito baixo quanto produtos acabados que respondam à ultima modernização. Isso, no entanto, leva a indústria nacional a se transformar apenas em montadora, deixando de lado a busca da inovação e aceitando o princípio de que grandes empresas no exterior estão mais aptas para oferecer o mais recente avanço tecnológico.
Com o tempo desaparecem as empresas que produzem componentes, enquanto a indústria final não se anima a realizar investimentos para criar inovações importantes, seja em processos, seja em produtos. Pouco a pouco, a indústria brasileira está se marginalizando e se vendo expulsa do mercado internacional, que, embora marginal, é importante para ela.
A CNI continua pessimista para 2012, prevendo que o PIB da indústria terá crescimento de 2,3%, com o PIB nacional crescendo 3% e o consumo das famílias aumentando 4% - que, numa economia equilibrada, não deveria ser superior ao aumento do PIB nacional. Continuará a haver, assim, um descasamento entre oferta e demanda, que, na visão do Banco Central, representa um dos fatores mais relevantes na criação de pressões inflacionárias.
Essas projeções econômicas foram apresentadas anteontem, mas no dia seguinte a CNI divulgou seu Índice Nacional de Expectativa do Consumidor, que em dezembro permanece estável, com uma preocupação em relação ao desemprego aumentando nos dois últimos meses. A CNI considerava que o desemprego continuaria muito baixo e que a demanda doméstica permanecerá alta em vista do novo salário mínimo e da redução da taxa de juros. Isso, no entanto, não será sentido na produção industrial, mas, sim, na importação.
ESTADÃO