Em meio à crise da zona do euro, a agência de classificação Fitch anunciou que pode rebaixar as notas de risco de crédito da França, Espanha, Itália, Bélgica, Irlanda, Eslovênia e Chipre, por considerar que os sete países ainda não apresentaram uma solução abrangente para conter os problemas causados pela turbulência na região.
Embora tenha colocado a perspectiva de nota de avaliação da França de "estável" para "negativa", a Fitch foi mais cautelosa no caso do país, reafirmando por ora a nota máxima "AAA", e destacando que o ranking de crédito se mantém devido ao poder e diversificação da economia francesa, além das diversas medidas adotadas pelo governo para reforçar suas finanças.
No entanto, a perspectiva é que o país alcance um nível recorde de endividamento público de 92% do PIB em 2014.
A perspectiva negativa preocupa os mercados, mas autoridades e investidores franceses que temiam o rebaixamento do país ficaram tranquilizados. A medida teria grandes repercussões nos planos de recuperação econômica da Europa, já que a França e a Alemanha, ambas com nota máxima "AAA", são a principal força para impulsionar o continente.
Já em relação aos outros seis países, a agência foi mais categórica ao determinar que as medidas anunciadas até o momento não são consideradas satisfatórias nem abrangentes o suficiente para o contexto de crise e que as notas de crédito dessas economias podem ser rebaixadas em até três meses.
Para a agência, a reunião de cúpula da União Europeia (UE) realizada em Bruxelas nos dias 9 e 10 de dezembro não resultou em uma "solução global" para a crise da dívida da zona do euro, algo que está "tecnicamente e politicamente fora de alcance", acrescentando que em sua avaliação é necessária uma atuação mais importante do Banco Central Europeu (BCE).
ENTENDA
O "rating" é uma opinião sobre a capacidade de um país ou uma empresa saldar seus compromissos financeiros. A avaliação é feita por empresas especializadas, as agências de classificação de risco, que emitem notas, expressas na forma de letras e sinais aritméticos, que apontam para o maior ou menor risco de ocorrência de um "default", isto é, de suspensão de pagamentos.
Para publicar uma nota de risco de crédito, os especialistas dessas agências avaliam além da situação financeira de um país, as condições do mercado mundial e a opinião de especialistas da iniciativa privada, fontes oficiais e acadêmicas.
O "rating" é sempre aplicado a títulos de dívida de algum emissor. Se uma empresa quer captar recursos no mercado e oferece papéis que rendem juros a investidores, a agência prepara o "rating" desses títulos para que os potenciais compradores avaliem os riscos.
As agências, portanto, classificam debêntures, "medium-term notes", títulos de dívida conversível, mas não ações.
GRAU DE INVESTIMENTO
A nota de países é preparada a partir da iniciativa do emissor ou da empresa de "rating". As empresas de classificação de risco alegam que, mesmo sob encomenda, o "rating" é uma avaliação independente, porque também há preocupação com a credibilidade da própria agência.
O chamado "rating" global de um país, por exemplo, é sempre a avaliação que uma determinada agência tem sobre o risco dessa nação não pagar os títulos, de longo prazo, que lançou no mercado internacional.
Esses países também são encaixados em categorias. Se a agência considera um país como "bom pagador", ele é classificado na categoria "grau de investimento". Se é visto apenas como um pagador de risco razoável, fica na categoria "grau especulativo", que também inclui nações que declararam moratória de suas dívidas.
As agências monitoram constantemente os países ou empresas. Dessa forma, quando lançam um "rating", também avisam quais as chances dessa nota ser revisada no curto prazo.
Se o panorama é positivo significa que a nota tem maiores chances de ser melhorada. Se é negativo, as maiores chances são de que haja um "downgrade" (seja revisada para baixo, uma nota pior). Se é estável, há poucas chances de que seja mudada nos dois anos seguintes.
LETRAS E SINAIS
As três agências de classificação de risco de maior visibilidade são a Standard & Poor's, a Moody's e a Fitch Ratings.
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As agências usam praticamente o mesmo sistema de letras e sinais. Assim, a melhor classificação que um país pode obter é Aaa (Moody's) ou AAA (Standard & Poor's) que, conceitualmente, significam "capacidade extremamente forte de atender compromissos financeiros".
Na ponta oposta, um título classificado como "C", para a S&P ou a Moody's, tem altíssimo risco de não ser pago.
"A taxa média de 'default' [moratória] entre 1970-2000 para títulos [classificados como] Aaa sobre um período de 10 anos foi de apenas 0,67", afirma a Moody's.
FOLHA