segunda-feira, 1 de abril de 2013

Escultura de arco-íris é alvo de ataques na Polônia


VARSÓVIA, Polônia - Com nove metros de altura, a escultura de um arco-íris na praça do Salvador, no centro de Varsóvia, mostra sinais de desgaste: metade está coberta por flores artificiais, enquanto a outra metade está nua, depois de ser incendiada.

Algo que pretendia ser uma obra de arte pública sem mensagem política declarada, segundo a artista responsável, virou parte de uma guerra cultural em torno da homossexualidade em um dos países mais católicos da Europa.

Desde que foi instalado na praça, em junho passado, o arco-íris foi incendiado quatro vezes e atacado por websites e políticos de direita.

Stanislaw Pieta é deputado pelo conservador Partido Lei e Justiça, o principal grupo oposicionista. Para ele, o fato de o arco-íris ter sido instalado num círculo gramado em frente a uma igreja é "um gesto revoltante, ofensivo aos católicos. É uma provocação".

A discussão dos direitos dos gays vem ganhando força na Europa nos últimos 12 meses. A Assembleia Nacional francesa aprovou uma lei que, se for ratificada pelo Senado, em abril, permitirá o casamento de casais do mesmo sexo. A Corte Constitucional Federal alemã ampliou os direitos de adoção de casais gays.

Os primeiros deputados poloneses abertamente gays e transgêneros foram eleitos em 2011. Mas a acolhida que tiveram foi tudo, menos universal. O ex-presidente e Nobel da Paz Lech Walesa declarou que os parlamentares gays deveriam sentar-se nas últimas fileiras do Parlamento polonês "ou até atrás de uma parede".

Dorota Chojna, 39, voluntária que ajudou a reparar o arco-íris queimado, disse que está com medo. "Como homossexual, não me sinto segura em Varsóvia. Participei da reconstrução para combater a homofobia onipresente".

Julita Wojcik, a criadora do arco-íris, disse que a intenção era que sua obra fosse um símbolo da tolerância. "Em 2011, a Polônia foi vista como um país homofóbico", explicou.

"Eu quis mostrar que não somos fechados, mas abertos". Wojcik levou o arco-íris à Polônia em junho do ano passado. Foi quando os problemas começaram.

Originalmente coberta por 16 mil flores artificiais, a escultura em pouco tempo virou um gigantesco teste de Rorschach para os habitantes da cidade.

Para alguns, era um arco-íris, nada mais. "Penso na felicidade da vida", comentou Jadwiga Wilczynska, 78.

Para Wlodzimierz Paszynski, o vice-prefeito de Varsóvia, a escultura "é um símbolo de união".

Wojcik, que tem 42 anos, comentou: "O arco-íris não é uma declaração pró ou antigays. É um símbolo de tolerância, diversidade, abertura".

Um dos incêndios foi considerado acidental e teria sido provocado por fogos de artifício durante o Ano Novo. Em outro caso, a pessoa que ateou fogo à escultura estava embriagada. Os outros dois incêndios ainda não foram elucidados.

"É vandalismo", opinou Maria Klosinska, cuja irmã é dona do bistrô Charlotte, na praça.

Mas o crítico Roman Pawlowski escreveu no site polonês de notícias on-line gazeta.pl: "Na realidade, estamos lidando com um ato de terror".

A intenção era que o arco-íris fosse uma instalação temporária, mas as autoridades de Varsóvia já concordaram em prorrogar várias vezes a data na qual ele seria desmontado. Em fevereiro, decidiram deixá-lo onde está por mais um ano.

Algumas pessoas acham que a versão desarrumada e levemente chamuscada do arco-íris é condizente com a cidade, marcada pela guerra e pelo comunismo.

"É um testemunho da cidade, de certo modo", comentou o proprietário de um café na praça. "É bom que o arco-íris tenha tido suas aventuras".

FOLHA DE S. PAULO