RIO - Duas testemunhas ouvidas entre a noite da última quarta-feira e a madrugada seguinte na Divisão de Homicídios (DH) afirmaram que foram compradas pelo major Edson Santos, ex-comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, para que acusassem traficantes da favela de terem assassinado Amarildo Souza, de 43 anos. Ele está desaparecido desde 14 de julho, após ter sido levado por PMs à UPP.
Um policial civil também foi acusado pela dupla de fazer parte do plano. O inspetor era lotado na 15ª DP (Gávea), e participou do inquérito que resultou na Operação Paz Armada. Desencadeada na véspera do sumiço de Amarildo, a operação prendeu naquele dia mais de 30 suspeitos de ligação com o tráfico na Rocinha.
As duas testemunhas ouvidas na DH são uma mulher e seu filho, de 16 anos, ambos moradores da Rocinha. As declarações foram feitas na presença dos delegados Rivaldo Barbosa, da DH, e Orlando Zaccone, da 15.ª DP, e dos promotores Homero das Neves e Marisa Paiva.
O rapaz estava internado no Hospital Municipal Miguel Couto desde 25 de maio, quando foi atingido na perna por um tiro de fuzil disparado por PMs da UPP Rocinha. Ele teve alta na última quarta-feira, quando decidiu mudar sua versão sobre o sumiço de Amarildo.
Pouco tempo antes de ter sido baleado, o adolescente foi levado à 15.ª DP, acusado de furtar o celular. O menor disse que um inspetor da 15.ª DP lhe propôs um acordo: não abriria o registro de ocorrência de furto, se o menor topasse identificar traficantes por meio de fotos no Facebook. Na ocasião, a 15.ª DP já tinha inquérito sobre o tráfico na Rocinha, que resultou na Paz Armada. O adolescente topou. Como recompensa, o inspetor teria lhe dado R$ 100.
iPhone. Dias após o sumiço, o mesmo inspetor teria lhe dado R$ 150, e prometeu presenteá-lo com um iPhone e um par de tênis de marca para ele dizer em depoimento que Amarildo havia sido assassinado pelo traficante Catatau. Dias depois, o major Edson Santos também teria oferecido pagar R$ 500 por mês para o menor e sua mãe alugaram uma casa fora da Rocinha. Em troca, eles deveriam prestar depoimento à Auditoria Militar do Ministério Público, acusando Catatau. Mas a promessa não foi cumprida. Revoltado, o rapaz decidiu contar à polícia. Procurado, o major Edson Santos não retornou a ligação da reportagem.
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