Pedro do Coutto
A repórter Andreia Sadi revelou na edição de sexta-feira da Folha de
São Paulo que Lula, o marqueteiro João Santana e o ministro da Secom,
Edinho Silva, estão aconselhando a presidente Dilma Rousseff a não
dirigir, pela televisão, a tradicional mensagem de primeiro de maio ao
povo brasileiro.
Os três, e mais alguns auxiliares do Palácio do
Planalto, chegaram à conclusão , de que qualquer pronunciamento dirigido
à sociedade pela passagem do Dia do Trabalho, data comemorada em muitos
países, será sucedido por um panelaço que apagará suas palavras e
prejudicará ainda mais sua imagem, já abalada pelo assalto à Petrobrás e
sua iniciativa de comprimir direitos sociais.
Pessoalmente não creio seja esse o melhor caminho a ser trilhado pela
presidente da República. Isso porque se ela recuar diante de tal
perspectiva terá sofrido uma nova derrota causada, desta vez, por si
mesma. Afinal de contas sair do palco não resolve o problema político
colocado em seu roteiro.
Pelo contrário. O recuo será uma prova de
temor, transmitindo um defensivismo difícil de traduzir. Isso de um
lado. De outro, fortalecerá ainda mais as restrições da CUT e da Força
Sindical em relação à Medida provisória que encaminhou ao Congresso
reduzindo, por exemplo, as pensões por morte legadas aos segurados que
contribuíram a vida inteira para a seguridade social.
Um retrocesso,
portanto.
E se Dilma devesse recuar, muito melhor seria retroceder no caso do
corte nas pensões e anunciar o recuo exatamente a primeiro de maio.
Recuar de ir à televisão jamais. Francamente não sei que o
ex-presidente Lula está pretendendo com a absurda sugestão. Não me
surpreendo com os demais conselheiros e conselhos, mas espanto o
simplismo adotado por quem venceu quatro eleições presidenciais
seguidas. Não faz sentido.
O recolhimento da presidente da República
passa um clima de medo e de reconhecimento por erros cometidos. Como o
de anunciar posições definidas na campanha eleitoral de 2014 e
alterá-las em 2015, depois de vitoriosa nas urnas e reempossada no
poder. A colisão entra a candidata e a presidente provavelmente é o
motivo principal de sua dúvida de se expor ou não à opinião pública.
Seja como for, acho firmemente que ela deve enfrentar o desafio, pois
não dirigir aos trabalhadores a tradicional mensagem, de Primeiro de
Maio será pior do que o reflexo político de qualquer panelaço por mais
intenso que seja. O poder gera obrigações intransferíveis. A principal
delas enfrentar e suportar as reações populares, as vozes das ruas, as
luzes da cidade.
FGTS PERTENCE AO TRABALHADOR
Reportagem de Renata Agostini e Natuza Nery, publicada também na
Folha de São Paulo de sexta-feira, sustenta que o governo está cogitando
captar 10 bilhões dos recursos existentes no FGTS para financiar
operações de crédito do BNDES sem a necessidade de tal repasse ser
fornecido pelo Tesouro Nacional.
Mas é preciso considerar que os
depósitos existentes no FGTS pertencem aos empregados, não ao governo
que, dessa forma, não pode dele dispor como se seus fossem.
A questão, entretanto, não se esgota nesse plano moral. Não. É
preciso levar em conta que as aplicações do BNDES são feitas a juros
subsidiados (4% ao ano), enquanto a rentabilidade do Fundo de Garantia,
com base na inflação de hoje, atinge praticamente 14% ao longo de 14
meses. Na hipótese da operação triangular compulsória, a diferença da
taxa ficaria com quem? Em nosso bolso é que não será.
Tribuna da Internet