Vicente Nunes
Correio Braziliense
A carta branca que a presidente Dilma Rousseff deu a seu vice, Michel
Temer, para negociar cargos nos segundo e terceiros escalões do
governo, em troca da apoio político, já provocou fortes movimentos
dentro do Congresso, que está de olho em diretorias de estatais e de
seus fundos de pensão. Esfomeados, deputados e senadores sabem o quanto
podem tirar de proveito das empresas públicas e das fundações que
deveriam garantir o complemento de aposentadorias de milhares de
trabalhadores.
O loteamento político de estatais e de seus fundos de pensão tem
apresentado resultados terríveis para o país. O caso mais visível é o da
Petrobras. A empresa que já foi símbolo nacional, exemplo de eficiência
e renovação tecnológica, se transformou no retrato mais cruel da
corrupção.
A companhia está em situação tão complicada que nem o balanço
do terceiro trimestre de 2014 conseguiu publicar, por recusa da firma
de auditoria em sancionar números inflados por obras superfaturadas,
fontes de propinas que engordaram os caixas dos partidos da base aliada
do governo, sobretudo do PT.
Quem se dá ao trabalho de analisar os demonstrativos financeiros das
estatais e de seus fundos de pensão fica estarrecido. Os dados mostram,
na maioria dos casos, elevado grau de ineficiência, que estimula a
sangria de recursos públicos. Os prejuízos se acumulam.
PERDAS BILIONÁRIAS
Somente no ano passado, a Eletrobras, que controla uma série de
empresas do setor elétrico, registrou perdas de R$ 3 bilhões.
Na
Infraero, em dois anos, o buraco atingiu quase R$ 5 bilhões. Nos
Correios, onde a presidente Dilma Rousseff deve abrigar Ideli Salvatti,
demitida da Secretaria de Direitos Humanos, o lucro caiu 71% entre 2012 e
2013 — os resultados do ano passado ainda estão pendentes.
Entre os fundos de pensão, o Funcef, dos empregados da Caixa
Econômica Federal, contabilizou, em 2014, rombo de R$ 5,6 bilhões.
Foi o
terceiro resultado negativo seguido. No Fapes, do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a deficiência de caixa está
em R$ 1,2 bilhão, correspondente a 11% de todos os ativos administrados
pela entidade. No Postalis, dos Correios, os desmandos decorrentes do
rateio do fundo entre o PT e o PMDB provocaram um buraco de R$ 5,6
bilhões.
O Petros, da Petrobras, até agora não liberou os números do ano
passado, mas se sabe que, até setembro, o deficit chegava a R$ 5,5
bilhões.
E NADA MUDARÁ…
Técnicos de respeito da equipe econômica afirmam que, num momento em
que o país se revolta contra a corrupção e mostra repulsa ao governo, a
presidente Dilma deveria ter pulso mais firme para conter a gula dos
políticos.
“Infelizmente, veremos a continuidade da sangria do patrimônio
público. Políticos sairão ricos e as estatais e os fundos de pensão
ficarão com os caixas esfacelados”, diz um servidor do Ministério da
Fazenda. “Não pode ser esse o preço da governabilidade”, emenda.
O governo já preparou o discurso para quando a porteira das nomeações
for aberta. Dirá que as estatais e os seus fundos de pensão estão
protegidos por regras rígidas de governança, com órgãos reguladores
prontos para agir em caso de malfeitos. Mas serão apenas palavras ao
vento.
Os políticos sabem que terão licença para surrupiar, sem
constrangimento, o patrimônio público e de trabalhadores.
Tudo será como
sempre foi. Se for necessário cobrir os rombos deixados por eles, o
Tesouro Nacional estará a postos para empurrar a fatura aos
contribuintes. Simples assim.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Em dois fundos, Postalis e Funcef, os empregados já sabem quanto terão de pagar a mais, para compensar os rombos e roubos. Nos demais fundos, as direções ainda não calcularam como cobrir os prejuízos. Uma vergonha. (C.N.)
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