Claudio Dantas Sequeira
IstoÉ
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A prisão do tesoureiro do PT João Vaccari Neto, seguida da revelação
dos agentes da Lava Jato de que ele desviava recursos para a legenda
havia 10 anos, compromete o partido e aproxima a presidente Dilma
Rousseff do escândalo.
A força-tarefa já tem fortes indícios de que as
campanhas da petista em 2010 e 2014 foram abastecidas com dinheiro
ilegal, desviado de contratos da Petrobras.
Além das doações oficiais, o MPF descobriu que uma gráfica ligada ao
PT foi usada para receber propina do esquema. Registrada em nome do
Sindicato dos Bancários de São Paulo e do Sindicato dos Metalúrgicos do
ABC, a Editora Gráfica Atitude fez campanha irregular para Dilma em 2010
– sendo inclusive multada pelo TSE – e, no ano passado, publicou uma
série de capas de apoio à reeleição da petista.
A pista da gráfica surgiu em depoimento complementar do delator
Augusto Mendonça, executivo da Setal Óleo e Gás, em 31 de março.
Mendonça contou que Vaccari lhe pediu que contribuísse com pagamentos à
Editora, em vez de proceder às habituais doações ao PT. A justificativa
oficial seria a publicação de propaganda na Revista do Brasil. Não há,
porém, registro de que tais anúncios foram publicados e nem havia
interesse comercial da Setal em fazê-lo.
PAGAMENTOS MENSAIS
Segundo o delator, Vaccari, entre 2010 e 2013, o procurou em três
oportunidades para realizar os depósitos totalizando R$ 2,5 milhões. “Os
pagamentos foram efetuados de forma parcelada, mês a mês, neste
período”, disse. Para tentar conferir ares de legalidade aos repasses,
todos superfaturados, foram celebrados contratos de prestação de
serviços, mesmo expediente usado nos desvios das grandes obras da
Petrobras. A quebra de sigilo bancário da Atitude revelou 14 pagamentos
de R$ 93.850,00 no período indicado, num total de R$ 1,5 milhão.
Um dos dirigentes sindicais que administraram a gráfica suspeita é
José Lopes Feijó, nomeado assessor especial da Secretaria Geral da
Presidência. Feijó foi indicado na gestão de Gilberto Carvalho e
permaneceu lá com Miguel Rossetto.
Ex-presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC e dirigente da CUT, seu nome chegou a ser sondado
para o Ministério do Trabalho. Além dele, também passou pelo comando da
Gráfica Atitude o petista Luiz Claudio Marcolino.
O sindicalista e
ex-deputado estadual concorreu a deputado federal no ano passado,
arrecadando R$ 2,5 milhões, dos quais R$ 580 mil oriundos de empresas
encrencadas na Lava-Jato.
QUEBRA DE SIGILO
Para os investigadores, será necessário, agora, comprovar a
veiculação dos anúncios públicos e privados na Revista do Brasil. O MPF
também pedirá ao juiz Sérgio Moro a extensão da quebra do sigilo
bancário, fiscal e telefônico dos sindicatos que controlam a Gráfica
Atitude e de seus dirigentes. Em 2005, a CPI dos Correios descobriu caso
semelhante, sugerindo que esta é uma velha maneira de operar do PT.
A
DNA Propaganda, de Marcos Valério, realizou depósitos na conta da
Gráfica FG, ligada a uma associação sindical beneficente.
A
justificativa da agência para repasse foi a impressão de 1,5 milhão de
folhetos informativos do Banco do Brasil. Assim como a Atitude, a
Gráfica FG era dirigida por um sindicalista, Tsukassa Isawa, do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Para o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, integrante da
força-tarefa da Lava Jato, o caso da Atitude reforça a suspeita de uso
de agências de publicidade para o pagamento de propina.
“Isso se liga
naturalmente às investigações da área de comunicação. Vamos verificar se
há link com outros casos já divulgados”, disse.
Lima se referia à recente prisão do ex-deputado federal e
ex-secretário de Comunicação do PT André Vargas, acusado de receber
propina pela intermediação de contratos da agência Borghi Lowe com
órgãos públicos, como o Ministério da Saúde.
Tribuna da Internet