Pedro do Coutto
Reportagem de Andréia Sadi e Marina Dias, Folha de São Paulo, edição
de 20 de abril, revela que a direção nacional do PT passou a temer que a
operação Lavajato culmine até numa escala capaz de inviabilizar o
registro do partido, pois as denúncias que se acumulam são capazes de
conduzir até a obrigação de a legenda ter que devolver 200 milhões de
dólares (cerca de 600 milhões de reais) aos cofres públicos, uma vez que
esse montante representa o que João Vaccari arrecadou durante dez anos
de 2003 a 2013.
O PT, assim, praticamente naufraga num mar da corrupção, cujas águas
revoltas escolheu cruzar.
É claro que a perspectiva não é das melhores.
Mas também Andréia Sadi e Marina Dias transmitem a impressão inevitável
de que a fonte dos recursos financeiros secou para o partido.
Tanto assim que no final da semana passada a comissão executiva do PT
decidiu suspender o recebimento de doações por parte de empresas
privadas.
A suspensão representa uma figura simbólica, pois na
realidade, como no samba de Monsueto, a fonte secou. Assim, a sustação
de captar recursos financeiros já havia antecedido o ato de suspender
tais ações.
ROUBALHEIRA
A operação Lavajato a cada dia aprofunda as investigações e a partir
da prisão de João Vaccari abriu-se um novo horizonte para iluminar e
identificar os atores da roubalheira instalada na Petrobrás.
Vaccari,
preso, torna-se evidentemente muito mais vulnerável do que quando se
encontrava solto e ainda acreditava na hipótese de sua impunidade. O
encarceramento já está começando a pesar fortemente sobre ele, que tem
consigo a chave de um mistério cada vez menos oculto.
Paralelamente à prisão de Vaccari vão se acrescentando os resultados
concretos das delações premiadas.
São milhões e milhões de dólares e
reais que circulavam ao seu redor. Ele, Vaccari, era praticamente o
epicentro através do qual eram redistribuídas as parcelas provenientes
dos roubos e dos superfaturamentos de obras e serviços, os quais
possibilitavam o pagamento em uma escala impressionante de propinas.
Pois é evidente que para pagá-las as empresas empreiteiras e
fornecedoras embutiam seus custos nos contratos. De maneira direta, como
acentua a reportagem da FSP terem sido envolvidas 90 contratações que
formavam a fonte torrencial do dinheiro emitido ilegalmente.
NAUFRÁGIO
Diante de todo esse quadro verifica-se hoje o naufrágio do Partido
dos Trabalhadores.
Além da perda que sofreu em sua posição política,
ainda por cima encontra-se ameaçado de devolver recursos sobre os quais
não tem mais controle, uma vez que foram parar nas mãos de integrantes
da sigla que jamais pensaram, e pensam, na hipótese de devolvê-los. Tais
recursos, em grande parte, encontram-se depositados no sistema
financeiro internacional.
E qualquer movimentação agora terminará
revelando o nome dos correntistas titulares dos depósitos, como
aconteceu com o ex-diretor da Petrobrás Renato Duque, que, na
antevéspera de ser preso, transferiu 31 milhões de euros na Suíça para o
Principado de Mônaco. Qual a origem desse dinheiro? É claro que se
trata de algo fora da lei.
Como Renato Duque existem vários outros personagens, qu7e João Vacari
se desejar, os revelará e é esse o temor maior da direção do Partido
que iniciou sua jornada tendo como bandeira uma ideia reformista mas que
terminou dramaticamente atuando sob a inspiração do conservadorismo que
sempre criticou nos outros mas terminou adotando para si próprio.
O
naufrágio do PT era previsível já que sua direção omitiu-se em relação
aos fatos que se passavam e terminaram transbordando quaisquer limites
existentes até mesmo considerando-se o quadro eterno da flexibilidade
política. Essa flexibilidade existiu em épocas do passado, existe no
presente e existirá para sempre como fator da atividade humana.
Porém
para tudo existe limites; o PT naufragou porque não levou em conta a sua
existência inevitável, ou seja violando-os colidiu com o rochedo que
demarcava a linha entre a praia e as ondas domar.
Tribuna da Internet