Mauro Santayana
Jornal do Brasil
É cedo para fechar ciclos, até porque, se assim fosse, a atual
Presidente da República não teria sido eleita, pela maioria dos
brasileiros, ainda há menos de seis meses. Se pode argumentar que
recentes pesquisas têm atribuído a Dilma Roussef popularidade
extremamente baixa, da mesma forma que se pode contra-argumentar que, à
mesma época de seu segundo mandato, a popularidade de Fernando Henrique
Cardoso também estava em situação parecida, e que nem por isso ele foi
extirpado, do poder, a qualquer preço.
Assim como também é certo que petistas e outros opositores, naquele
momento, pediram a saída do então Presidente da República, o que não foi
alcançado, para o bem da democracia. Afinal, por mais que se esteja
contra um governo, uma nação tem que ter regras e ritos – calendário
eleitoral, sistema político estável e definido, leis que devem ser
obedecidas. Nem um erro pode justificar o outro nem um país pode trocar
de presidente, como um garçom – ou um “palestrante” acostumado com
palcos e encontros “empresariais” – troca de camisa.
Se tivesse conseguido forçar um impeachment de Fernando Henrique –
que passou a lei de reeleição no Congresso com manobras de
“toma-lá-dá-cá” questionáveis, e praticou, no mínimo, um estelionato
eleitoral cambial, deixando para desvalorizar o dólar logo após sua
posse no segundo mandato como Presidente da Republica – o PT teria
cometido, então, uma agressão à democracia, como estão fazendo, agora,
aqueles que pretendem que Dilma saia do Palácio do Planalto “por
qualquer meio”, e o “mais depressa possível”, como defendem, muitos,
repetidamente, nos principais “portais” da internet.
A QUEM INTERESSA?
Ao empresariado brasileiro – aquele que produz e não o que vive de
firulas – não interessa a quebra da ordem política ou institucional.
Qualquer fator que possa favorecer a crise – e a atual tem sido em
boa parte propositadamente forjada e constantemente realimentada junto à
opinião pública pela turma do “quanto pior melhor” – pode atrapalhar,
como já está atrapalhando, os seus negócios.
Nesse caso, o melhor
caminho não é o de se fazer “cirurgias” e “intervenções” de que não se
pode adivinhar, com certeza, o que virá depois, mas, sim, voltar ao
normal, antes que seja tarde. Afinal, o empresário que torce pela quebra
da normalidade, está torcendo, em primeiro lugar, contra si mesmo.
Ele deve, neste momento, se fazer as seguintes perguntas: Alguma
coisa o está impedindo, a priori, de fazer negócios? De trabalhar? De
continuar operando com a sua empresa? A vida, à sua volta, está “normal”
ou “anormal”? Os problemas que está vivendo são de ordem estrutural, ou
conjuntural, como sempre ocorreu nas “crises” que enfrentou antes? É
melhor seguir adiante, ou apostar no imprevisível, no aleatório, no
imponderável?
TIROS PELA CULATRA
Infelizmente, quando se quebra o ritmo natural das coisas, os tiros
costumam sair pela culatra. Nos anos 1920 e 1930, na Alemanha, as ruas
também se encheram de gente que não estava propensa a esperar as
próximas eleições, pedindo que se mudasse tudo, que se enquadrasse o
Parlamento, que se estabelecesse a “ordem” e o crescimento, que se
punissem os corruptos, que se acabasse com certa parte do espectro
político, que se reformasse o país para que do passado não sobrasse
“pedra sobre pedra”.
Quando as eleições vieram, elas votaram em Adolf Hitler, que
pressionou de todas as formas até ser nomeado Chanceler do Reich, por
Hindemburg. A “cirurgia” que se seguiu, que era para ser “rápida”, e
“segura”, deixou, nos 5 anos que se seguiram, uma nação devastada e mais
de 60 milhões de mortos em todo o mundo.
Depois da ascensão do ridículo führer anti-semita e anticomunista ao
poder, muitos empresários que o haviam apoiado e financiado, perderam,
na Segunda Guerra, seus filhos e netos. Outros tiveram seus negócios
ocupados por gente que tinham empurrado para a rua para derrubar o
governo anterior. E muitos caíram em desgraça com os novos senhores da
Alemanha, tomando, cabisbaixos, o rumo de Dachau, Bergen-Belsen, e de
outros campos de concentração ou de extermínio.
Tribuna da Internet