Eduardo Aquino
O Tempo
O Tempo
Quem dera se os céticos e ateus, que merecem meu respeito mesmo não
me demonstrando de forma lógica e matemática a inexistência de Deus – o
que me permitiria acreditar neles –, pudessem entender de forma
definitiva que fé não é sinônimo de religiosidade! Repito em alto e bom
som, inclusive para os religiosos de carteirinha: fé não é religião!
Na verdade, é uma energia inerente ao ser humano, e tem sido
pesquisada de forma científica numa região específica do cérebro, o lobo
temporal direito. Farei aqui uma ponderação que pode ilustrar e ir além
das radicalizações que o tema suscita.
Pegaremos um fenômeno bem conhecido, embora sem a clareza que
desejamos, que é o “efeito placebo”. Como explicar que entre 27% e 31%
daqueles que recebem pílulas de farinha de trigo, ao invés da medicação
científica, respondem de forma positiva e terapêutica, como se tivessem
usado a medicação com os princípios científicos verdadeiros?
Ou ainda,
quando médicos com atitudes mais humanas e receptivas ao prescreverem
uma mesma medicação – comparados a outros profissionais frios,
indiferentes ou mal-humorados – têm resposta quase 40% mais positiva no
primeiro caso?
EFEITO CURATIVO
Estudos recentes mostram que palavras de líderes religiosos, uma
imantação pelas mãos e orações coletivas, ou mantras, têm poderoso
efeito curativo.
Funcionam tal qual o efeito placebo de um médico
acolhedor, transmitindo confiança (con – do grego, “junto de”,
“compartilhado” e fiare – “fé”) e ativando a mesma área do cérebro
citada acima. Tudo isso para lamentar a tremenda falta de fé que assola a
humanidade.
Falta dela que, principalmente, assola os jovens viciados em
tecnologia. Pessoas que abdicam de experimentar as sensações
espirituais, transcendentais, ao mesmo tempo que assistem a guerras
religiosas descabidas sem qualquer relação com a fé, num mundo de
intolerância e barbáries.
De sunitas, xiitas e Estado Islâmico, passando
por Al-Qaeda, muçulmanos e católicos. E até mesmo a divisão entre os
budistas! Realmente, é o fim da picada!
DENTRO DE CADA UM
Fé, meus amigos, começa dentro de cada um de nós e nunca num milagre
desejado. Afinal, já somos, em nós mesmos, milagres da natureza (embora
não percebamos).
Essa energia da fé como sinônimo de crença e percepção que somos
moléculas divinas, capazes de transformar pensamentos em ações,
sentimentos em energia.
Essa necessidade básica de sermos animados (do
grego, “anima” ou “alma”), portanto, de carregar uma entidade espiritual
– algo que vai muito além do físico e psíquico –, de sermos movidos a
sonhos, metas e intenções, nos tornarmos transformadores de elementos de
uma tabela periódica, de máquinas, tecnologia de ponta, cidades e
organizações espetaculares enquanto, simplesmente, nos matamos por
coisas banais, roubamos, traímos, mentimos…
Essa evolução louca, cheia de altos e baixos, esse alvorecer da
humanidade, que tem só 150.000 anos, demonstra que o conflito entre o
mais animalesco que herdamos de nossos ancestrais e o mais divino que
buscamos está só no início.
RECÉM-NASCIDOS
Somos récem-nascidos no espaço e tempo universal. Ainda que pretensiosos candidatos a deuses artificiais e incompetentes.
Se fé fosse representável por conceitos e palavras que significassem
emoções e afetos, talvez fosse uma porção mágica, de especiarias como o
desapego, a serenidade, a entrega sem dúvida ou preocupação, a percepção
infinita da paz-de-espírito.
Adicionada ao relaxamento, êxtase e comunhão com a natureza que nos
circunda e invade ao deliciar com o nascer e o pôr do sol, aquela
paisagem divina, o mar sereno ou o simples cheiro da dama-da-noite. Nos
detalhes, os grandes milagres que cismamos diariamente em não usufruir…
Tribuna da Internet