Acílio Lara Resende
O Tempo
O Tempo
Enquanto macacos atrasam o plano de internet na Índia, orçado em US$
18 bilhões (eles comem os fios das fibras óticas…), aqui, em nosso pobre
país, empresários e políticos se juntaram para comer um bom naco do
nosso dinheiro confiado à Petrobras.
Mas quais deles, na realidade,
saíram piores? Essa resposta, leitor, você ficará me devendo.
Enquanto você se diverte com isso, reflitamos sobre o seguinte:
pertencemos a um mundo globalizado, mas o que isso de fato significa? É
simples: fazemos parte de um mesmo mundo, embora o tratamento nem sempre
seja igual para todos. Ou estamos nele, ou, embora “vivendo” nele,
estamos fora dele.
Ou temos condições de nos transformarmos em
consumidores, ou não temos e somos, pois, ganga pura. E ganga, você
sabe, é resíduo que, de modo geral, não serve para nada.
Segundo o Banco Mundial, 4 bilhões dos 7 bilhões de seres humanos que
habitam esse mundo não são consumidores e, por isso, nem sempre são
visualizados.
Só conhecem guerra, fome, miséria, morte. E o que fazem os
que integram o grupo dos 3 bilhões para minorar isso? O que fazem,
sobretudo, os ricos – uma minoria, sem dúvida, nesse grupo – para
minorar isso?
E o que fazem os que (mesmo não sendo ricos, como a maior
parte desse enorme grupo) têm acesso, sem constrangimento, a esse mundo
cheio de contradições e injustiças?
BOFF E D’AMARAL
Essas preocupações tomaram conta de mim depois que li sobre o estrago
que os macacos fizeram no plano de internet na Índia e depois que li
Leonardo Boff e Márcio Tavares D’Amaral, o primeiro em O TEMPO, o
segundo em “O Globo”.
Em seu último artigo, ao se referir ao sistema
capitalista, disse Boff: “Esse sistema serve bem apenas a 2 bilhões de
pessoas, que se afogam no consumo suntuoso e no desperdício atroz.
Ocorre que somos já mais de 7 bilhões de pessoas, das quais quase 1
bilhão vive na mais canina pobreza e miséria”.
O colunista de “O Globo” talvez tenha sido mais ameno: “O mundo é
habitado por 7 bilhões de pessoas. Mas 4 bilhões de humanos estão fora
desse mundo. E, parece, não entrarão se mudanças radicais não se
produzirem”. Eles sobrevivem com US$ 1 ou US$ 2 por dia…
Mas essas minhas preocupações se aprofundaram mais depois que assisti
no YouTube, enviado pelo meu filho Bernardo, ao filme sobre o
“encantador de cavalos”.
Exibido outra vez nesse último domingo, no
programa do Faustão, que raramente oferece aos que o veem algum alívio
ou refrigério, o espetáculo me deixou ainda mais extasiado com o que
esse jovem espanhol faz com os equinos. “E eles só fazem o que fazem
porque gostam do que fazem”, disse Santos Serra.
Contra eles, não há sequer um gesto de violência.
A PIOR DAS CRIATURAS?
Horas depois, ao insistir para conciliar o sono, obviamente
prejudicado pelo que ocorre em nosso país, me perguntei, entre
assombrado e perplexo: será o homem a pior das criaturas de Deus?
Perguntei, mas deixei de lado esse escárnio, pois, enfim, o que Deus tem
a ver com o que os humanos fizeram de si próprios?
Falei de macacos e cavalos, leitor, talvez para conter um pouco minha
“indignação moral” contra o que vem acontecendo em nosso país.
É
difícil (ou impossível?) conservar-se alheio diante do que políticos e
empresários pátrios, na mais safada e vergonhosa aliança, fizeram e
fazem contra os brasileiros, sobretudo contra os mais sofridos.
Até quando continuaremos nessa derrocada moral? Nem o Altíssimo sabe!
Tribuna da Internet