Percival Puggina
Neste Dia do Trabalhador, a presidente não falará em cadeia nacional,
talvez porque haja companheiros seus em cadeia federal. Ou porque
suspeitou que a notícia do dia seguinte fosse um formidável panelaço
interestadual.
Falará, então, às redes sociais.
Que tantas redes são
essas e como elas se interconectam de modo a gerar uma comunicação de
amplo alcance, não entendo.
O que importa é o fato: estamos sob uma
presidência que não pode aparecer em público, que só se comunica com os
seus. E em recinto fechado.
É sobre as razões disso que escrevo. Faz sentido o isolamento. O
governo, afinal, jogou o país num jamais visto conjunto de crises.
CRISE MORAL – tem sua face mais visível no assalto à
Petrobras e nos esquemas de propina organizados em relação às obras
públicas, mas inclui inúmeras práticas reprováveis. Entre outras: a) o
assassinato de reputações; b) a utilização de agentes provocadores e
militantes violentos para produzir objetivos políticos; c) parcerias
traçadas dentro do Foro de São Paulo, que sugerem crime de alta traição;
d) uso de fundos públicos para apoiar ditaduras e governos violadores
de direitos humanos.
CRISE DE CREDIBILIDADE – determinada pelo destampado
emprego da mentira, da mistificação e da falsificação de dados oficiais
para fins eleitoreiros, criando na sociedade a ilusão de que tudo ia
bem quando tudo já ia irremediavelmente mal. A crise de credibilidade do
governo tem reflexo interno e externo de vastas proporções.
CRISE FISCAL – determinada pela insolente e
pretensiosa tese segundo a qual o partido governante, pela nobreza de
suas intenções sociais, recusa a “lógica neoliberal”, segundo a qual o
governo não deve gastar mais do que arrecada. O governo, então, jogou na
privada a Lei de Responsabilidade Fiscal. Gastou demais para garantir a
reeleição, esbanjou irresponsavelmente, no Brasil e no exterior, e está
sem recursos para atender as mais urgentes demandas nacionais.
CRISE DA INTELIGÊNCIA – talvez seja a que mais inibe
nosso desenvolvimento. O mundo vai na direção das liberdades
econômicas, da criatividade, da liberdade, dos avanços tecnológicos, da
valorização do trabalho, do mérito e da qualificação dos recursos
humanos. O petismo e seus intelectuais orgânicos se empenham, há
décadas, na direção oposta. Dedicam-se a tornar hegemônica uma ideologia
do atraso, semelhante à de seus parceiros do Foro de São Paulo, que
viola o direito de propriedade, desqualifica o mérito, cria dependências
em relação ao poder público, mitifica o Estado e desfavorece a
iniciativa privada.
CRISE ECONÔMICA – produzida com sucessivos
desarranjos na estrutura do gasto público. Entre os muitos equívocos, se
incluem condutas simbolicamente irresponsáveis como as que
privilegiaram a “conquista” da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Com
consequências ainda mais graves, envolvem os elásticos financiamentos
privilegiados, concedidos por compadrio. Tem sido negligente com a
infraestrutura nacional, criando gargalos até mesmo para o
desenvolvimento do agronegócio. Manipulou as tarifas de energia e os
preços dos combustíveis como explícitas plataformas eleitorais. Com
consequências já medidas na redução dos postos de trabalho e da massa
salarial, concedeu incrementos aos salários acima da expansão do PIB e
pretendeu “aquecer” o consumo endividando a sociedade e desestimulando a
poupança.
CRISE DA GOVERNABILIDADE – Desde a segunda metade da
gestão Lula II, o governo, como articulador de políticas de interesse
nacional, simplesmente acabou. Os gestores petistas têm usado como base
de negócios tudo que podem submeter à sua influência. Põe no mesmo
carrinho, como num supermercado, os órgãos do próprio governo, da
administração permanente e do Estado, sem qualquer unicidade e sem
estratégias, exceto as de curtíssimo prazo, ligadas à manutenção do
poder. Muito antes de a presidente Dilma terceirizar seu governo nas
últimas semanas, ele já fora terceirizado, por Lula, a facções políticas
dos partidos da base, muitas das quais, só pelo traje, se distinguem
das organizações criminosas que operam no submundo nacional.
CRISE DA INCONFORMIDADE – O que mais incomoda toda
consciência bem formada e todo cidadão esclarecido é saber que não
precisávamos passar por tais dificuldades! A conta do estrago, a conta
dessa irresponsável usina de crises, como já era previsto há bom tempo,
será paga com desemprego, inflação, carestia, mais impostos, redução da
massa salarial e falta de recursos para as atividades essenciais de
Educação, Saúde e Segurança Pública. É esta última crise, a da
inconformidade, que tem levado o povo brasileiro às ruas.
Tribuna da Internet