Fernando Canzian
Folha
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Um dos maiores inimigos do PT ao longo de sua trajetória, o
receituário do FMI (Fundo Monetário Internacional) talvez salve o
partido duas vezes no comando da Presidência da República. A série de
ajustes conduzida neste momento por Joaquim Levy é pura prescrição do
FMI, instituição onde o ministro da Fazenda trabalhou por sete anos.
Na terça-feira, dia 12, o Fundo fez elogios às ações de Levy. No
mesmo dia, o britânico “Financial Times” o chamou de “falcão fiscal
treinado na Universidade de Chicago”.
O receituário do FMI é sempre previsível e clássico, destinado a países que chegam ao fundo do poço, como o Brasil sob Dilma. Corte de despesas e aumento de receitas quando há crises fiscais, mais a implosão de programas insustentáveis do ponto de vista atuarial. Os cortes no seguro desemprego e pensões por mortes são parte dessas medidas.
De saída, o FMI também impõe a seus endividados forte elevação dos
juros para conter a inflação e tentar amenizar os efeitos de outro
instrumento do receituário: um “tarifaço” a fim de corrigir preços
defasados e equilibrar o caixa de empresas fornecedoras de energia,
combustíveis etc. para que possam perpetuar investimentos.
ECONOMIA DE MERCADO
A lógica do Fundo é que contas em dia geram confiança entre
investidores privados e tiram a pressão do peso do governo sobre a
economia. O objetivo é aproximar ao máximo o país da economia de
mercado.
A primeira vez que o Fundo Monetário salvou o PT foi em 2003, quando
Lula assumiu a Presidência pendurado em empréstimo de US$ 30 bilhões. O
então ministro da Fazenda Antonio Palocci fazia visitas constantes ao
Fundo, assim como o próprio Levy, então secretário do Tesouro, que
poucos anos antes havia se desligado do FMI.
Se olharmos para todos os países que precisaram de dinheiro do Fundo
para se manter à tona, veremos que a base do receituário é sempre a
mesma. Há doses extremas do mesmo remédio para problemas extremos, como
na Grécia agora.
SEGUNDA RODADA
O Brasil segue mais uma vez o mesmo caminho. E ele pode de fato
melhorar as condições macroeconômicas. O problema é que a lógica de
encaminhar um país rumo à economia de mercado requer outras mudanças
estruturais para azeitar setores importantes.
No Brasil, estamos ainda na fase aguda do ajuste, que vai sendo feito
com as dificuldades presentes no Congresso.
Mas será necessária toda uma segunda rodada de mudanças, que passa pelo fortalecimento de agências reguladoras (hoje esvaziadas), maior eficiência de ministérios e seus gastos, combate ao desperdício e estímulo à competição privada.
Mas será necessária toda uma segunda rodada de mudanças, que passa pelo fortalecimento de agências reguladoras (hoje esvaziadas), maior eficiência de ministérios e seus gastos, combate ao desperdício e estímulo à competição privada.
Essa será uma fase bem mais difícil e lenta. Mas necessária para não
voltarmos, mais à frente, a recorrer indefinidamente ao receituário
emergencial do Fundo.
Tribuna da Internet