Carlos Newton
A situação política no Brasil chegou a um ponto extravagante. A
presidente Dilma Rousseff finge não ter sido eleita pela PT e se
comporta como se não pertencesse ao partido.
O ex-presidente Lula faz o
contrário – defende desesperadamente o partido e tenta transparecer que
não tem culpa de nenhum dos erros e malfeitos do governo.
E o PT
completa o enigma, fingindo não ter elegido Dilma Rousseff, criticando
decisões do governo e prestigiando Lula em todos os sentidos.
Pode-se
até dizer, sem medo de errar, que nunca antes, na História deste país,
se viu bagunça igual.
É claro que esta estranhíssima composição política não pode dar
certo, pois mantém o clima sempre instável e agitado, com pancadas
repentinas a qualquer momento e sem a menor possibilidade de melhorar no
decorrer do período.
Reclusa no pequeno percurso entre os palácios da Alvorada e do
Planalto, a presidente Dilma simplesmente abdicou de governar.
Terceirizou a articulação política para Michel Temer (PMDB) e a condução
da economia para Joaquim Levy (PSDB), deixando o resto de lado, só se
preocupa com a dieta e as operações plásticas que a cada ano vão
modificando suas feições.
E não adianta a presidente Dilma aparecer no noticiário entregando
casas populares, se reunindo com o Comitê Olímpico e visitando obras do
metrô, numa patética tentativa de mostrar que o governo está
funcionando, quando todos sabem que a administração pública ficou
congelada pela crise, o imobilismo é contagiante.
SEM BASE ALIADA
O pior é tentar conduzir o governo sem maioria no Congresso. Isso
jamais funciona. Foi assim que João Goulart, Jânio Quadros e Fernando
Collor se estabanaram.
É para isso que servem o PMDB, o PP, o PCdoB, o
PTB, o PV e até o PDT. Eles sempre dão um jeito de apoiar o governo,
qualquer governo, para arrancar a parte que julgam lhes caber no
latifúndio administrativo. Mas quando o governo fica enfraquecido, a
base aliada logo se desfaz. Não adianta esse festival de nomeações dos
últimos dias.
É nuvem passageira.
Lula sempre esteve ciente desta necessidade e foi por isso que mandou
criar o mensalão, o petrolão e os demais esquemas de arrecadação de
propinas e utilização de recursos públicos que chegaram a envolver
praticamente toda a administração federal direta e indireta, conforme
vai ficando cada vez mais claro nas denúncias reveladas diariamente pela
mídia.
Mas a fonte secou e nenhum governo consegue se sustentar em meio
a uma crise tão corrosiva.
ENCONTRO MARCADO
A aceitação do advogado Fachin para o Supremo e a desajustada
aprovação do ajuste fiscal pouco significam, apenas vitórias efêmeras. A
realidade é que este governo acabou antes mesmo de começar, embora a
oposição seja fraquíssima e até mesmo inoperante.
Neste quadro, a ainda
presidente Dilma Rousseff sabe que tem um encontro marcado com o
fracasso.
A única dúvida é saber por quanto tempo ela seguirá fingindo
que está governando.
Dilma talvez esteja se mirando no exemplo da Bélgica, que
recentemente ficou alguns anos sem governante. Ninguém sentiu falta e o
país seguiu em frente, sem ter primeiro-ministro. Mas acontece que na
Bélgica a administração pública funciona, cada um sabe que tem de
cumprir seu dever, enquanto no Brasil…
Tribuna da Internet