Acílio Lara Resende
O Tempo
No momento em que o país passa por inúmeros e gravíssimos problemas,
veio-me às mãos, por gentil obséquio do meu amigo Ronaldo Macedo, o
livro do escritor mineiro Jorge Azevedo “Eles Deixaram Saudade”.
Detive-me num soneto, nele transcrito, do poeta, jornalista e romancista
cearense (publicou um só romance) Antônio Sales (1868-1940), amigo de
Machado de Assis; ajudou-o a fundar a Academia Brasileira de Letras,
mas, por não ser bom orador, se negou a fazer parte dela.
O soneto se refere ao governo de Arthur Bernardes (de 15.11.1922 a 15.11.1926) ou Washington Luís (de 15.11.1926 a 15.11.1930):
“Este país vai todo em polvorosa.
A anarquia por toda parte impera.
A lei sucumbe, inerente e dolorosa.
A tirania, estúpida, prospera.
Da traição medra a planta venenosa,
a semente dos ódios prolifera,
a dilapidação campeia e goza
das vacas gordas a ditosa era…
As eleições são conto do vigário,
couro e cabelo tira-nos o erário,
geme a lavoura, os bancos não têm fundos…
Mas, para consolar-nos desse inferno,
brevemente, a mensagem do governo
dirá que estamos no melhor dos
mundos.
O que flagrou o poeta há 90 anos é quase nada diante do que vivemos
hoje – o completo abastardamento da política brasileira.
Uma calamidade!
Uma calamidade!
Tribuna da Internet