Pedro do Coutto
Uma das consequências da perda do poder de compra dos salários diante
dos índices inflacionários, a retração das vendas atingiu em cheio o
mercado imobiliário no primeiro trimestre de 2015.
Reportagem de Renata
Agostini, Folha de São Paulo de terça-feira 19, focaliza nitidamente o
tema, revelando que seis das 13 maiores incorporadoras do país
cancelaram os lançamentos dos imóveis novos durante o período de janeiro
a março. Problema principal: falta de compradores, processo que tem
como causas principais também a redução dos financiamentos pela Caixa
Econômica Federal e elevação dos juros. A Caixa Econômica responde ou
respondia por 70% dos créditos destinados ao setor imobiliário.
Os estoques de residências a espera de compradores alcançou 27 mil e
471 unidades, o que contribui para elevar os gastos com sua manutenção,
aumenta os juros pagos pelos financiamentos originais e obriga as
empresas a investirem cada vez mais no setor de publicidade,
movimentando mensagens constantes nas emissoras de televisão e nos
jornais.
Renata Agostini revela que algumas incorporadoras acreditam que o
panorama do primeiro trimestre permanecerá até o final deste ano. Isso
se não houver mudança na política econômica do governo Dilma Rousseff,
cujos reflexos, inclusive, estão atingindo o próprio partido do
Executivo, o PT. Os empresários, por isso mesmo, não veem perspectivas
que levem à mudança de rumos.
LULA CONTRA DILMA
O conflito interno do governo, como a imprensa vem publicando, está
colocando em campos opostos a presidente Dilma Rousseff e o
ex-presidente Lula. A disputa prejudica os dois, porque da mesma forma
que Dilma necessita do apoio de Lula, ele precisa da melhoria do
desempenho de Dilma para que sua candidatura em 2018 não sofra as
consequências negativas nas urnas da sucessão presidencial.
Como um depende do outro, ambos empenham-se para contornar a situação, pois a nenhum interessa uma ruptura frontal pelo temos de um forte desabamento da legenda. Para Lula, o rompimento seria mais fácil. Porém, a ruptura pode levar ao desabamento e, como acontece em tais situações, o teto cais igualmente sobre ambos.
TENDÊNCIA A PIORAR
O tempo vai passando e as coisas só demonstram tendência a piorar. O
plano Joaquim Levy representa um lance de alto risco para o Palácio do
Planalto. Basta que o desemprego continue a subir e os salários a
baixar, para que a crise se aprofunde ainda mais. Ela já se evidenciou,
como a reportagem da Folha de São Paulo acentua, no mercado imobiliário de forma
bastante aparente. E está se tornando cada dia mais evidente no sistema
geral de consumo. Se essa sequência não for quebrada, a popularidade do
governo vai cair mais ainda. A insatisfação é geral. Ninguém está
otimista ou impulsionado por perspectivas favoráveis em relação ao
futuro próximo.
TEMPO DEMAIS
Dizer que o plano Joaquim Levy pode dar certo é possível, apesar de
difícil, mas de quanto tempo dependerá o alcance do êxito e o efeito
deste diretamente na população. Quatro anos? Talvez, em caso positivo.
Mas politicamente é tempo demais, mesmo superada a dúvida que está na
consciência de todos. E temos que considerar os efeitos nas eleições de
2016 e no rumo das urnas de 2018. O tempo passa rápido, de modo geral.
E, em se tratando de política, passa mais rápido ainda, porque os
fatos são dinâmicos e, por isso, são capazes de levar a mudanças
inesperadas. Inesperadas? Sem dúvida. A política está cheia de exemplos
históricos que confirmam essa impressão. As dúvidas, no fundo, superam
as certezas.
Tribuna da Internet