Pedro do Coutto
O título deste artigo – creio eu – sintetiza o resultado efetivo da
votação da noite de quarta-feira, na Câmara dos Deputados, quando o
Palácio do Planalto, por 252 contra 227 votos, conseguiu aprovar a parte
que se refere ao seguro-desemprego e abono salarial, da Medida
Provisória relativa ao Ajuste Fiscal projetado pelo ministro Joaquim
Levy.
O governo, na realidade, venceu perdendo e, com isso, arrastou o
PT à derrota junto a opinião pública. Este aspecto está plenamente
refletido e contido na reportagem de Júnia Gama, Simone Iglesias, Isabel
Braga, Eliane Oliveira, além de Catarina Alencastro e Luiza Damé, O
Globo, edição de 7 de maio.
O texto deixa evidente o duplo destaque da presidente e da legenda,
na medida em que o governo arregimentou votos em troca de promessas
explícitas de cargos no Executivo, inclusive ao nível de ministérios.
Um
deles, reflexivamente vago desde já, o do Trabalho, ocupado por Manoel
Dias, do PDT, cuja bancada votou contra a proposição redutiva do acesso
ao seguro-desemprego. No mérito, a redução colocada poderia ser aceita,
mas não como produto de barganha ou ameaça.
Trocar cargos na administração por votos de deputados é algo
escandaloso que colide com o sentimento popular. Com isso, no fundo,
aumentou a impopularidade, tanto de Dilma Rousseff quanto a do Partido
dos Trabalhadores.
Isso de um lado. De outro, é preciso lembrar à presidente que a
matéria segue agora para o Senado. O procedimento da cooptação de votos
será o mesmo? Quem vai preencher as vagas abertas pela persuasão? Os
deputados ou os senadores? Ou os representantes das duas Casas do
Congresso? Uma pergunta difícil de responder. E mais difícil ainda que
tal hipótese venha a se concretizar na prática.
TEORIA E PRÁTICA
Na teoria, os impasses são sempre fáceis de resolver, basta acionar
as teclas dos computadores e colocá-la no papel. O papel aceita tudo e,
não fosse ele, não se teria a memória dos tempos.
Mas quantas ideias se
realizaram concretamente? Uma pesquisa importante a ser feita, não só no
Brasil, mas em muitos outros países, está no confronto entre o sonho de
um projeto, seja ele qual for, e sua transformação em realidade. Deixo
aqui a ideia aos companheiros deste site. Talvez surjam comparações
interessantes as quais acrescentem ao processo cultural.
Mas voltando as negociações em torno da oferta por cargos em troca de
votos, verificamos a dimensão do desajuste da colocação do governo,
pois na medida em que abre a perspectiva de acesso, em decorrência
acelera a demanda, levando-a a um ponto de saturação e ruptura.
E, ao lado desse ângulo, devemos colocar outro, este proveniente da
leitura de reportagem de Bruno Vilas Boas, Folha de São Paulo, também na
edição do dia 7, revelando que a produção industrial brasileira
encolheu nada menos que 5,9% em relação a igual período do ano passado.
Além disso, Vilas Boas acentua que no exercício passado houve queda em
todos os setores industriais, envolvendo os de bens de capital, bens
duráveis, além do setor de bens de consumo.
O processo comprova que o
rumo da política econômica não está produzindo consequências positivas.
SEM ÉTICA
A volta ao código decifrado das negociações políticas menos éticas e
mais tradicionais, acrescida ao processo econômico social, só pode
resultar num fracasso de grande dimensões, semelhante ao que marcou e
manchou a história da Petrobrás. A população brasileira merece que o
poder deixe as sombras e se exponha à luz da razão.
Tribuna da Internet