Fernando Canzian
Folha
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A Caixa Econômica Federal acaba de anunciar um corte de R$ 25 bilhões
no financiamento à casa própria em 2015. É mais uma medida do ajuste
fiscal. O banco é responsável por 70% dos financiamentos imobiliários no
país, que convive com um déficit habitacional estimado de 5,2 milhões
de residências. Ele passará a 20 milhões em 10 anos.
A Caixa também é a principal responsável pelo dinheiro do programa
Minha Casa Minha Vida.
Sua fase 3, que previa o financiamento de 3
milhões de imóveis, a maioria na faixa 1 (altamente subsidiado, com
prestações mínimas de R$ 25) está atrasado. E sem prazo para lançamento.
Na semana passada, a coluna acompanhou durante a madrugada de sábado
uma invasão de terreno na Grande São Paulo promovida pelo MTST
(Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto).
A maioria das 750 pessoas que invadiram uma área em Itapecerica da
Serra no sábado é de trabalhadores, muitos desempregados do setor de
serviços. Eletricistas, motoristas, chapeiros e até porteiros de
condomínios de classe média.
Em 12 meses, segundo o IBGE, a área de serviços (a que mais emprega,
com salários menores, e que representa cerca de 70% do PIB) encolheu
3,6%. Na construção civil, que também emprega mão de obra pouco
qualificada, o encolhimento previsto para este ano é de 5,5%. As
demissões somam 250 mil em 12 meses.
AUMENTANDO GASTOS
No mesmo dia do anúncio do corte de R$ 25 bilhões em créditos da
Caixa, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou projeto de
aumento dos servidores do Judiciário Federal. Eles já estão entre os
mais bem remunerados do país. Valor da conta: R$ 25,7 bilhões nos
próximos quatro anos.
Um dia antes, soubemos que os brasileiros já são responsáveis pelas
compras de 11% dos empreendimentos imobiliários no sul da Flórida. Um
condomínio privado em Miami recém lançado, com marina particular, foi
vendido rapidamente e 60% dos novos proprietários são brasileiros.
Alguns apartamentos custam R$ 12 milhões.
Hoje, um cidadão no país que tenha R$ 1 milhão em qualquer aplicação
conservadora em um banco vai ganhar, no final do mês, cerca de R$ 10.000
líquidos, sem fazer nada. Graças à política de juros elevados do Banco
Central para tentar conter o atual surto inflacionário produzido pelo
governo Dilma 1.
Se a década passada foi marcada pela distribuição da renda em direção
aos mais pobres e o surgimento da tal nova classe média, estamos
novamente diante de indícios fortes de uma renovada concentração de
renda no Brasil.
Tribuna da Internet