Pedro do Coutto
Numa exposição feita em Washington para o FMI, o ministro Joaquim
Levy afirmou que a recuperação da economia brasileira será lenta, a
longo prazo, devido ao que ele classificou de desaceleração global e
desequilíbrios domésticos.
A matéria está bem exposta na edição de O
Globo de 2 de junho pela correspondente do jornal, Flávia Barbosa,
acrescentando que 2015 será um ano de grave recessão.
Embora tenha dito
que a recuperação será lenta, à base de uma estratégia de longo prazo, o
titular da Fazenda admitiu uma reação do Produto Interno Bruto no
segundo semestre, em decorrência do ajuste fiscal e da colocação em
prática do programa de venda, pelo governo de concessões para empresas
privadas explorarem rodovias, ferrovias e portos.
Mas esta é outra
questão.
As declarações de Levy provavelmente desagradaram a base política do
governo, já que ele sustentou que a reconstrução será feita tijolo por
tijolo, e que esta é a melhor forma possível em vez de “tentar manter
algo anticíclico” mas, penso eu que, ao defender a estratégia de ações a
longo prazo, implicitamente reconheceu uma tomada de posição
nitidamente anticíclica.
Já que, como é lógico, somente se pode
recuperar o que se perdeu, caso contrário não teria cabimento o esforço
de resgate acentuado pelo próprio titular da Fazenda.
Além disso, o
ministro da Fazenda assinalou, ao enfatizar a nova estratégia de
crescimento, que “vamos encarar este mundo por um tempo”.
PARAR DE CAIR
O chefe da equipe econômica do governo Dilma Rousseff ressaltou que,
quando as coisas estiverem estruturadas, espera a economia parar de cair
e começar a crescer lentamente.
Assim falando, reconheceu tacitamente
que a economia está em queda, pois só se freia a queda quando algo está
caindo.
As palavras do ministro da Fazenda realçam, é claro, uma firme
posição política que ele conquistou no governo, tanto assim que
reconheceu ser o mais importante trabalhar visando ao soerguimento
econômico.
Acrescentou: “São na verdade reformas estruturais disfarçadas
em coisas simples”.
Neste ponto, confesso que não entendi o que ele quis dizer.
Porém, na
sequência, ele afirmou ser importante também que o Brasil comece a
modernizar o sistema tributário, que é burocrático e oneroso.
Nesta
frase ele confessou diretamente ter herdado um sistema fiscal arcaico,
porque somente se pode modernizar o que se encontra ultrapassado no
tempo e no espaço, deixando antever as restrições que continua fazendo
ao desempenho da própria presidente Dilma Rousseff em seu primeiro
mandato, antes portanto da reeleição.
REEQUILÍBRIO FISCAL
Dando continuidade a sua exposição, Joaquim Levy afirmou ser
fundamental o reequilíbrio fiscal para aumentar o nível de poupança
pública classificando sua importância para elevar os investimentos e a
confiança no suporte da poupança privada.
Mas como pode se defender a elevação dos investimentos privados no
Brasil quando o BNDES financia (como ficou revelado pelos repórteres
Eliane Oliveira, Daniele Nogueira e Ruben Berta na edição de ontem de O
Globo) projetos privados em outros países, inclusive a juros mais baixos
do que os cobrados aqui dentro.
Além do mais, surge uma dúvida, a
partir da constatação que os créditos foram em dólar. A dúvida é sobre
que montante incidem as taxas do BNDES sobre os valores repassados.
Incidirão sobre o total em dólares ou em reais? Mas esta é outra
questão.
RECUPERAÇÃO A LONGO PRAZO
O fato essencial é que a recuperação lenta, a longo prazo, colide com
os interesses políticos dos partidos que apoiam o governo por temerem
reflexo negativo nas urnas de 2016.
Para a oposição, ao contrário, em
matéria de voto não poderiam ter sido melhores as afirmações do titular
da Fazenda.
Afinal de contas, todos esperam sempre efeitos rápidos, nem
sempre possíveis para recuperar a desestruturação destacada por Joaquim
Levy e a busca do tempo perdido com problemas estruturais e atuações
anticíclicas. É isso aí.
Tribuna da Internet