Mauro Santayana

Hoje em Dia
Prometeram-lhes a Primavera.
Mas nenhuma flor brotou de seus
cadáveres, a não ser as formadas pelas algas e organismos marinhos que
cobrem os seus corpos no fundo do Mediterrâneo. Disseram-lhes que
haveria paz, justiça, progresso, conforto e liberdade.
E em troca lhes
deram o caos de que procuram fugir a qualquer preço, a guerra, a
injustiça, a destruição, o medo, a opressão e a miséria, e atacaram, com
seus aviões e navios e as bombas e balas de seus mercenários, seus
países, suas lojas, suas escolas, seus consultórios, seus poços e suas
fontes, seus campos de trigo, seus bosques de oliveiras, matando seus
cavalos, suas vacas, suas ovelhas, e explodindo suas pontes e seus
templos.
Suas casas e ruas agora estão em ruínas. Seus móveis e os retratos de seus pais foram queimados para fazer fogo e assar o pão escasso enviado por outros povos, muitos de seus filhos e filhas morreram e os que sobraram não vão mais aos parques, nem ao zoológico, nem à escola, e caçam ratos entre os escombros em que se misturam os restos de mesquitas, igrejas e sinagogas.
OS FANTASMAS
Aqueles que prometeram a Primavera transformaram professores,
agricultores, trabalhadores, médicos, engenheiros, comerciantes, em
fantasmas que vagueiam agora aos milhares, enterrando seus velhos e seus
recém-nascidos por trilhas, montanhas, mares e desertos hostis e
inóspitos, sem poder prosseguir diante de fronteiras e portos que não
permitem a sua entrada, obrigando-os a fazer dos restos de suas túnicas e
bandeiras farrapos imundos que cobrem seus frágeis abrigos e tendas
provisórias.
Aqueles que haviam lhes prometido a Primavera tinham dito que era
preciso que seus ditadores caíssem, para que fossem felizes. E para
derrubar os antigos líderes de seus países, dividiram seus povos e as
armas que trouxeram de fora, equipando exércitos de assassinos, de
sádicos, estupradores e mercenários, permitindo que seus bandidos fossem
e matassem.
Foi assim que eles derrubaram, então, aqueles que governavam antes.
Os enforcaram ou espancaram na rua, como cães, até a morte, destruíram as estradas, ferrovias, aeroportos, avenidas, represas, aquedutos, viadutos, hospitais, as estátuas e os palácios que Saddam, Kadafi, haviam construído, e mataram também seus filhos, para que não os vingassem, e aqueles que um dia os tinham apoiado, e espancaram e assassinaram também seus filhos pequenos e violentaram suas filhas e mulheres.
Os enforcaram ou espancaram na rua, como cães, até a morte, destruíram as estradas, ferrovias, aeroportos, avenidas, represas, aquedutos, viadutos, hospitais, as estátuas e os palácios que Saddam, Kadafi, haviam construído, e mataram também seus filhos, para que não os vingassem, e aqueles que um dia os tinham apoiado, e espancaram e assassinaram também seus filhos pequenos e violentaram suas filhas e mulheres.
OS ASSASSINOS
“Vão”, disseram os que haviam prometido que semeariam a Primavera. E
seus assassinos foram. Os mesmos que agora voltaram-se contra eles, que
degolam seus prisioneiros ajoelhados na areia, e se espalharam em bandos
e seitas pelo Oriente Médio e o Norte da África.
Eles querem montar um Estado – Islâmico, eles o chamam – onde antes
existiam, de fato, a Líbia, a Síria e o Iraque. Estão às portas de
Bagdá. Tomaram Ramadi e Palmira. E cobiçam Trípoli e Damasco.
Tribuna da Internet