Eduardo Militão
Correio Braziliense
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu está novamente sob cerco.
Enquanto a CPI da Petrobras estuda aprovar requerimento para quebrar o
sigilo telefônico dele, a Polícia Federal se prepara para concluir os
inquéritos sobre ele e sua empresa, a JD Assessoria e Consultoria, alvo
da Operação Lava-Jato.
De posse dos dados fiscais do ex-ministro, a PF
deve obter em breve os dados bancários do principal ministro do primeiro
mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conta o delegado
regional de Combate ao Crime Organizado da Superintendência da PF no
Paraná, Igor Romário de Paula.
Na CPI dos Correios, o sigilo fiscal de
Dirceu foi quebrado e ele já teve dados telefônicos abertos na
investigação sobre a parceria MSI-Corinthians.
Em entrevista exclusiva ao Correio, o delegado disse que a
investigação deve se encerrar no mês que vem. Dados da Receita Federal
mostraram que JD Consultoria faturou R$ 29 milhões entre 2006 e 2013,
sendo R$ 10 milhões de clientes investigados na Lava-Jato.
Igor de Paula
é um dos líderes de uma equipe de oito delegados, seis escrivães, 18
agentes e seis peritos dedicados exclusivamente à maior investigação de
corrupção da história recente no Brasil.
O delegado diz que, ao menos neste momento, não há motivos para
prender Dirceu, mas não existem provas de que ele prestou consultoria de
verdade para as empreiteiras fornecedoras da Petrobras e fala de
pressão sobre a PF para prender alguns acusados, como o ex-tesoureiro do
PT João Vaccari Neto.
FALTAM PERÍCIAS
No caso do ex-ministro, faltam ainda serem feitas perícias contábeis,
analisar mídias apreendidas, receber o sigilo bancário dele, tomar
depoimentos de pessoas como o lobista Milton Pascowith, que pagou R$ 1,4
milhão a Dirceu, e ouvir o próprio investigado.
“É um inquérito que não
vai demorar muito para acabar, não”, afirmou o delegado, no prédio da
PF em Curitiba, no bairro de Santa Cândida.
A previsão era concluir em
junho o trabalho, mas algumas informações atrasaram.
Igor Romário, no entanto, trata como boato a “prisão iminente” de
Dirceu, detenção que aconteceria em uma sexta-feira.
“Fiz uma piada uma
vez e disse: ‘A gente podia quebrar a regra e, então, fazer uma prisão
no sábado”, afirmou o delegado.
O advogado do ex-ministro, Roberto
Podval, fez várias declarações em abril adiantando que Dirceu seria
preso. Para Igor, trata-se de um “carnaval” e um “teatrinho”.
“Ele faz
um teatrinho em cima ali talvez para criar uma dificuldade maior, um
constrangimento maior para que essas medidas não ocorram”, avalia.
O delegado diz que, “em princípio”, não vê motivos para colocar
Dirceu na cadeia, que hoje cumpre prisão domiciliar pelo caso do
mensalão.
Para uma detenção preventiva ser decretada, a lei diz, por
exemplo, que o investigado deve praticar crimes continuamente ou ameaçar
o sucesso da apuração com destruição de provas e intimidação de
testemunhas. Não importa só a gravidade dos crimes.
Tribuna da Internet