O anúncio da venda das operações do HSBC Holdings - o maior banco da Europa- no Brasil, nesta terça-feira, não chegou a ser recebido com surpresa no país.
A trajetória de queda de rentabilidade do grupo, envolvido em um grande escândalo de evasão fiscal em sua unidade suíça,
era bem conhecida pelo mercado que já vinha acompanhando o desempenho
aquém do esperado.
Só no ano passado, o banco, que opera há 18 anos no
Brasil, teve um prejuízo de 549 milhões de reais no país, enquanto
grandes concorrentes bateram recorde de lucro.
O HSBC Brasil não
detalhou quanto espera obter especificamente com a venda, mas seu valor é
estimado em mais de 10 bilhões de reais.
Os candidatos mais fortes à compra são os gigantes brasileiros Bradesco e Itaú e o espanhol Santander,
segundo especialistas.
Os três já estariam negociando a venda das
operações do HSBC Brasil que deve ser finalizada no mês de julho.
O
único a comentar o tema foi o Itaú, que afirmou que sempre avalia
oportunidades “focadas no crescimento do banco no Brasil e na América
Latina e na geração de valor aos acionistas”, segundo a agência
Bloomberg.
“Mas a verdade é que todos os grandes bancos vão analisar esta venda.
Tanto os brasileiros interessados em ganhar mais clientes como os
estrangeiros que querem ganhar mais espaço na região, como os bancos
chineses e espanhóis”, afirma Luís Miguel Santacreu, analista de bancos
da Austin Rating.
Sem alteração inicial para clientes
Em nota, o HSBC Brasil ressaltou que está em processo de venda e não
de encerramento.
“O banco segue operando normalmente e, mesmo após a
venda, seguirá prestando serviços aos seus clientes”, afirmou.
O banco
também esclareceu que o HSBC Brasil continuará funcionando para atender
aos clientes corporativos de grande porte.
Mesmo assegurando que o HSBC Brasil segue funcionando normalmente, as
eventuais demissões com a venda geraram protesto no Paraná nesta
terça-feira.
Funcionários do banco fecharam as sedes administrativas da
empresa em Curitiba, sede oficial da instituição, e estenderam faixas na
frente dos escritórios. Um dos cartazes ironizava o slogan do banco:
"HSBC, no Brasil e no mundo, enganando você".
O encerramento das atividades na Turquia e o corte de quase 50.000
postos de trabalho em todo o mundo, metade delas na unidade turca e na
brasileira, também fazem parte de um plano estratégico para restaurar os
lucros, o crescimento do banco e também superar perdas ocasionadas pelo escândalo conhecido como Swissleaks.
Na semana passada, o HSBC anunciou que pagará 43 milhões de dólares
como parte de um acordo para encerrar a investigação do Ministério
Público de Genebra sobre lavagem de dinheiro na filial suíça do banco.
As mudanças anunciadas devem gerar uma economia de US$ 4,5 bilhões e
US$ 5 bilhões para a instituição até 2017. Elas mostram também que o
objetivo do banco agora é concentrar a atuação na Ásia, principalmente
na China e na Índia.
Queda da lucratividade
De acordo com Luís Miguel Santacreu, da Austin Rating, havia
evidências de que a estratégia da subsidiária brasileira do HSBC não
estava funcionando. Os britânicos entraram no mercado em 1997, comprando
o Bamerindus (que enfrentava diversos problemas de crédito) com a
pretensão de ser um dos mais importantes do setor bancário nacional, mas
foram perdendo espaço.
“Apesar de chegarem com força foram perdendo
participação, enquanto Bradesco, Itaú e Santander foram comprando outros
bancos e fincando sua presença no topo”.
Atualmente, o HSBC é o sétimo maio banco do Brasil em ativos, no
entanto possui uma estrutura que não condiz com a quantidade de
clientes, segundo o especialista.
“A lucratividade não estava boa, o
banco possui uma rede de agências grande que ultrapassam 800, um número
elevado de funcionários, mas uma quantidade de clientes que não é
satisfatória”, explica Santacreu.
EL PAÍS Economia