quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A gratidão, segundo o tratado de São Tomás de Aquino



Gerson Monteiro
Jornal Extra


Nesta época do ano é sempre conveniente deixar bem claro o significado de gratidão, segundo o professor português Antonio Nóvoa, quando disse certa feita: “Há uns dias atrás estava eu pensando o que dizer para os meus companheiros de trabalho tudo o que me têm dado, e tem sido muito. E lembrei-me do Tratado sobre Gratidão de São Tomás de Aquino. Esse Tratado tem três níveis de gratidão: um nível superficial, um nível intermédio e um nível mais profundo”. E acrescentou:

“O nível superficial é o nível do reconhecimento, do reconhecimento intelectual, do nível cerebral, do nível cognitivo do reconhecimento. O segundo nível é o nível do agradecimento, do dar graças a alguém por aquilo que esse alguém fez por nós. E o terceiro nível mais profundo do agradecimento é o nível do vínculo, é o nível do sentirmos vinculados e comprometidos com essas pessoas”.

E de repente descobri uma coisa na qual eu nunca tinha pensado, que em inglês ou em alemão se agradece no nível mais superficial da gratidão. Quando se diz “thank you” ou quando se diz “zu danken” estamos a agradecer no plano intelectual. Que na maior parte das outras línguas europeias, quando se agradece, isso se faz no nível intermediário da gratidão. Quando se diz “merci” em francês, quer dizer dar uma mercê, dar uma graça. Eu dou-lhe uma mercê, estou-lhe grato, dou-lhe uma mercê por aquilo que me trouxe, por aquilo que me deu. Ou “gracias” em espanhol, ou “grazie” em italiano. Dou-lhe uma graça por aquilo que me deu e é nesse sentido que eu lhe agradeço, é nesse sentido que eu lhe estou grato.

E que só em português, que eu saiba, é que se agradece com o terceiro nível, o terceiro nível, o nível mais profundo do tratado da gratidão. Nós dizemos “obrigado”. E obrigado quer dizer isso mesmo. Fico-vos obrigado. Fico obrigado perante vós. Fico vinculado perante vós. Fico-vos comprometido a um diálogo. É esse diálogo, enfim, que quero e é nesse preciso sentido que dizemos: “Muito Obrigado”. E por fim, digo também muito obrigado a Deus, a Jesus, e a todos os benfeitores espirituais que nos apoiam.

(artigo enviado pelo comentarista Antonio Rocha)

Tribuna da Internet

PT, Governo, Dilma e Lula num impasse irreversível

Carlos Chagas


Mais do que um sinal de rompimento, foi uma declaração de guerra ao governo Dilma a mensagem distribuída nas redes sociais, segunda-feira, com a assinatura do presidente do PT, Rui Falcão. De início, leia-se Lula como o signatário real.

Significa o quê, nessa passagem de ano, a veemente crítica da direção dos companheiros à política econômica reafirmada dias atrás pelo novo ministro Nelson Barbosa? Nada mais, nada menos, do que o estado de beligerância entre o criador e a criatura. Referindo-se à participação da CUT e do MST na condenação às diretrizes adotadas antes por Joaquim Levy e agora pelo substituto, o PT demonstra repúdio e rejeição aos métodos de Madame para enfrentar a crise econômica.

Nada de apoiar as soluções de mercado, neoliberais, que só tem feito aumentar o desemprego em massa, os impostos, taxas e tarifas, o custo de vida e a redução de direitos sociais. Esse modelo só beneficia as elites, fechando as portas para a retomada do crescimento. Não dá para, através dessas iniciativas, devolver à população a confiança perdida. De um ano para cá vem despencando a popularidade de Dilma, do governo e do PT. Como persistir na alta de juros e nos cortes em investimentos? Responsabilidade e ousadia são recomendações a contrapor à estratégia econômica atual.

LULA INSISTE

Faz tempo que o Lula vem batendo nessa tecla, ignorado pela sucessora e agora disposto a seguir isolado e isolando o grupo encastelado no palácio do Planalto. Porque o PT é o Lula, e o Lula, o PT. Importa menos saber se o desmonte do outrora objetivo maior do partido, de mudar o Brasil, acontece por obra e graça daqueles que o representam no governo.

O resultado do choque de concepções tornou-se público. Tem-se a impressão de ser definitiva a separação. Nem Dilma cederá aos apelos do PT e do Lula, nem esses admitirão ir para o precipício. Em meio ao impasse, identifica-se a sombra do impeachment, hoje esmaecida, mas capaz de ressurgir por conta da presença de deputados e senadores em suas bases, durante o recesso parlamentar. Queixas e reclamos da sociedade só fazem crescer, sem que o governo demonstre disposição de mudanças. Com todo o respeito, sem programas de recuperação e de reaproximação do governo com a opinião pública, logo se fará sentir a voz rouca das ruas.

Tribuna da Internet

O Sol tem de nascer para todos

Vittorio Medioli


O Tempo

Vou arriscar. O ano de 2015 foi regido por Shiva, o aspecto da Tríade hinduísta que tem em Brahma, o criador de tudo, a inteligência suprema, a mente cósmica, a emanação; em Vishnu, a força mantenedora, o dharma, o dever de fazer o que é certo e correto; em Shiva, a força destruidora, não daquilo que é ainda necessário, mas do que se esgotou, que enfaixa uma situação. Shiva destrói a casca do egoísmo e permite a libertação da consciência.

No ano que se finda Shiva deu golpes certeiros em quem se acreditava ao reparo das atenções divinas. Colocou em crise quem adota qualquer método para atingir seus fins. Para alguns intocáveis fez ruir a ilusão da impunidade. Rachou alicerces que pareciam eternos.

Se nas dificuldades existe uma importante lição, chegou para muitas pessoas a hora de apreender e, para outras, compreender o que não sabiam. Embora ser rico ou ser pobre sejam coisas que nos acontecem, saber ser rico ou ser pobre é algo que nós produzimos por dentro. O que nos faz felizes não é essencialmente aquilo que temos, mas sim o que nós somos.

VIRTUDES E DEFEITOS

Ser rico não é pecado, e ser pobre não é virtude. O pecado é não saber ser rico ou ser pobre, pois os dois aspectos têm aspectos positivos, virtudes e defeitos.

O que não pode acontecer é ser egoísta, figura antidivina, e, por isso, não conseguir compreender o que é sublime sem adquirir “pureza de coração”, aprofundados no nível mais cruel da vida.

Existe uma lei cósmica infalível que gera o enriquecimento do homem que em si mantém uma atitude doadora, que está sempre disposto a dar do que tem e a dar o que é. Isto é, ajudar os semelhantes com o que possui e com aquilo que ele “é”. Não basta “fazer o bem” dando coisas – é necessário também “ser bom”, dando a própria capacidade e exemplo.

Os cálculos mesquinhos podem lograr êxito por algum tempo, mas certamente sucumbirão a sua inconsistência crônica.

EMBAIXADOR DE DEUS

Quem sabe que é embaixador de Deus aqui, na Terra, e em outros mundos trabalha por amor a sua grande missão. E é por isso que ele trabalha com alegria procurando a perfeição, tanto nas coisas grandes como nas coisas pequenas.

Não subestima os detalhes, não trabalha para ter público que o aplauda. Receia os louvores e não se deprime com as censuras. Consegue aceitar com razoável indiferença as homenagens e as vaias, porque se libertou das escravidões do homem raso e se revestiu da luminosidade do homem que pratica a Verdade.

Podemos prever – e não há por que imaginar que de repente tudo cesse – que 2016 será um ano predominantemente dedicado aos acertos de Shiva. Um ano fundamentalmente útil para apreender novas e melhores formas de convivermos. Precisamos agradecer a cada dia não só os amigos que nos confortaram, mas nossos adversários que nos estimularam a vigiar constantemente, a sermos mais compreensivos e compassivos.

Na vida tudo tem sentido e utilidade. Desejo, assim, que “você” tenha a força para desempenhar seu papel em plenitude – festejando as 365 vezes em que o sol nascerá em 2016, permitindo-lhe corrigir-se e ampliar suas virtudes.

Tribuna da Internet

PT sugere novos impostos para ricos e mais proteção ao emprego

Natuza Nery
Folha
 
O PT já definiu um cardápio de medidas com o qual pressionará o governo a promover uma inflexão na política econômica. Além de crédito para micro e pequenas empresas, a legenda cobrará de Dilma Rousseff um plano nacional de defesa do emprego que lhe devolva parte da popularidade perdida para enfrentar o impeachment. Pela prescrição petista, a presidente precisa “botar o pé” nas concessões públicas utilizando o BNDES como patrocinador dos principais projetos.

Outra sugestão é usar títulos da dívida ativa para financiar obras. A ideia é vender os papéis a bancos privados com desconto no valor. Os bancos, por sua vez, pagariam ao governo à vista e lucrariam ao cobrar essas dívidas de terceiros.

O PT também quer mudar o Imposto de Renda. A tabela teria uma faixa nova, com alíquota de 40%, para os que ganham mais de R$ 100 mil por mês. E isenção para salários até R$ 3.800. A sigla calcula que o ganho seria de R$ 80 bilhões.

A cúpula petista defende ainda um imposto semelhante ao IPVA para jatinhos e helicópteros.

PAUTAS AMARGAS

O Planalto recebe recados cada vez mais enfáticos de que sua base de apoio irá minguar se Dilma insistir em pautas amargas como a reforma da Previdência. Dirigentes do PT alertam que militantes saíram às ruas em nome do projeto do partido e não em defesa de Dilma.

“Deve ter alguém da oposição infiltrado no Palácio do Planalto. Tirar direito de trabalhadores e aposentados agora é colocar lenha na fogueira do impeachment”, alerta o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

Tribuna da Internet

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Império do caos prepara-se para mais fogos de artifício em 2016

Pepe Escobar
RT


Em seu seminal ‘Fall of Rome: And the End of Civilization,’ Bryan Ward-Perkins escreve: “os romanos antes da queda viviam tão certos de que o mundo deles duraria para sempre, como nós hoje… Estavam errados. Bem faremos se não repetirmos a complacência deles”.

O Império do Caos, hoje, nada tem a ver com complacência. É tudo exagero – e medo. Desde o início da Guerra Fria, a questão crucial tem sido quem controlaria as grandes redes comerciais da Eurásia – a “Terra Central” (orig. “heartland”), segundo Sir Halford John Mackinder (1861-1947), pai da geopolítica.

Pode-se dizer que, para o Império do Caos, o jogo realmente começou com o golpe patrocinado pela CIA no Irã em 1953, quando os EUA finalmente se encontraram, cara a cara, com aquela famosa Eurásia cortada e recortada durante séculos pelas Rotas da Seda; e decidiram conquistar todas elas.

Só seis décadas adiante, pode-se afinal ver que não haverá Rota da Seda norte-americana no século 21, mas, isso sim, exatamente como a predecessora, haverá Rota da Seda Chinesa. O impulso de Pequim rumo ao que chama “Um Cinturão, Uma Rota [Estrada]” está inserto no conflito do século 21 entre o império em declínio e a integração da Eurásia. Subtramas chaves incluem a perene expansão da OTAN e a obsessão do império com criar uma zona de guerra no Mar do Sul da China.

PARCERIA PEQUIM-MOSCOU

Pelo modo como a parceria estratégica Pequim-Moscou analisa isso, as elites oligárquicas que realmente comandam o Império do Caos estão dedicadas a cercar a Eurásia – porque entendem que podem ser largamente excluídas de um processo de integração pelo comércio e avançados links de comunicação.

Pequim e Moscou claramente identificam provocação atrás de provocação, combinadas com demonização incansável. Mas não serão apanhadas. As duas capitais jogam jogo muito longo.

O presidente russo Vladimir Putin insiste diplomaticamente em tratar o ocidente como “parceiro”. Mas sabe muito bem, e na China os que sabem também sabem que não são, na verdade, “parceiros”. Não depois dos 78 dias de bombardeio mortífero da OTAN contra Belgrado em 1999. Não depois do deliberado bombardeamento da embaixada chinesa. Não depois do expansionismo non-stop da OTAN. Não depois de um segundo Kosovo, na forma de golpe (ilegal e ilegítimo) em Kiev. Não depois de o petrodólar do Golfo freguês dos EUA ter derrubado o preço do petróleo. Não depois da derrubada do rublo, urdida em Wall Street. Não depois das sanções de EUA e União Europeia. Não depois de agentes dos EUA em Wall Street terem esmagado os papéis chineses classe-A. Não depois das provocações e agitar de sabres ininterruptos no Mar do Sul da China. Não depois de derrubarem o Su-24.

À DISTÂNCIA DE UM FIO DE CABELO

Rápida rebobinada dos eventos que levaram ao ataque contra o Su-24 é esclarecedora. Obama reuniu-se com Putin. Imediatamente depois, Putin reuniu-se com Khamenei. O sultão Erdogan, claro, ficou em pânico. Em Teerã anunciou-se, em cenas super explícitas, uma aliança russo-iraniana a sério. Apenas um dia antes do ataque que derrubou o Su-24.

Hollande da França encontrou-se com Obama. Mas, em seguida, Hollande encontrou-se com Putin. Erdogan vivia sob a firme ilusão de que criara o pretexto perfeito para uma guerra da OTAN, a ser lançada pelos termos do artigo 5º da Carta da OTAN. Não por acaso, a Ucrânia, estado falhado, foi o único país a aprovar – na mais frenética correria – o ataque ao Su-24 russo. Mas a OTAN piscou e recolheu-se horrorizada, pode-se dizer: o Império não estava pronto para guerra nuclear.

Não, pelo menos, por enquanto. Napoleão sabia que a história gira num fio muito fino. Com a Guerra Fria 2.0 sempre vigente, como está e continuará a estar, estamos sempre a um fio de cabelo de distância da guerra nuclear.

(artigo enviado por Sergio Caldieri)

Tribuna da Internet

Copa e Olimpíada deixam "legado amargo" no Rio de Janeiro

Bernardo Mello Franco
Folha


É dramática a situação do Rio de Janeiro neste fim de 2015. O colapso nas contas do Estado já havia comprometido o pagamento de funcionários e fornecedores. Agora a crise provoca o fechamento de hospitais, deixando milhares de doentes, grávidas e idosos ao relento. Falta tudo na saúde do Rio: leitos, remédios, material cirúrgico e respeito a médicos e pacientes. Nos últimos dias, ao menos 24 unidades foram fechadas. Na Baixada Fluminense, uma mulher deu à luz na calçada, após ter atendimento negado em uma maternidade estadual. No maior hospital da zona norte carioca, o Getúlio Vargas, a entrada da emergência foi bloqueada com tapumes. Deveriam fazer o mesmo com o Palácio Guanabara, onde despacha o governador do Estado.

Luiz Fernando Pezão, do PMDB, admite que o Rio está quebrado. Ele não pode recorrer à velha desculpa da herança maldita. É afilhado do ex-governador Sérgio Cabral, também do PMDB, que instalou seu grupo político no poder há nove anos.

COPA E OLIMPÍADA…

A queda dos royalties do petróleo e o tombo na arrecadação de ICMS explicam, mas não justificam a penúria do segundo Estado mais rico da federação. A crise poderia ter sido atenuada com planejamento e medidas rápidas de ajuste. E jamais chegaria a este ponto sem os gastos bilionários com Copa e Olimpíada. Parte da verba que sumiu foi torrada na fantasia dos grandes eventos esportivos. Só no Maracanã, o governo enterrou mais de R$ 1 bilhão.

Na quarta-feira, a rádio CBN noticiou que o Estado deixou de fornecer reanimadores para pacientes com problemas respiratórios em São Gonçalo, na região metropolitana. Em ofício, a Secretaria de Saúde alegou que o material estava reservado para a Rio-2016. Assim fica difícil defender o tal legado dos Jogos.

Tribuna da Internet

Decepção diminui o número de jovens filiados ao PT no Brasil

Deu em O Tempo


Ligado desde sua fundação a movimentos estudantis e da juventude, o PT está envelhecendo. E mais rápido que a maioria dos outros partidos. Desde 2011, a proporção de jovens (16 a 34 anos) na sigla caiu de 25,7% do total da militância para 19,2%. Foi a maior redução entre as cinco siglas com mais filiados (as outras quatro são PMDB, PP, PSDB e PDT), segundo dados da Justiça Eleitoral.

O envelhecimento reflete uma tendência da política brasileira. No mesmo período, a proporção de jovens em relação ao total de filiados caiu em 27 dos 34 partidos brasileiros. E o número absoluto de filiados nessa faixa etária decresceu em 23 deles.

A queda no partido governista, porém, é mais acentuada. Em números absolutos, os jovens petistas foram de cerca de 390 mil em outubro de 2011 para 305 mil em outubro deste ano. A redução, de 21,7%, está acima da média dos partidos (15,4%) e é a segunda maior entre as cinco maiores legendas, atrás apenas do PP (24,2%).

REBELDES SEM CAUSA

“Antes, a motivação para se filiar ao PT era um ato de rebeldia. Agora, passa por uma expectativa de carreira, de obter um cargo. Essa tendência, que é algo visto em todos partidos sociais democratas que chegam ao poder: atrai um número restrito de pessoas porque fica limitado à capacidade de oferecer cargos”, afirma o historiador Lincoln Secco, autor de “A História do PT” (Atêlier Editorial, 2011) e ex-militante da sigla.

A história da relação da advogada Isadora Penna, 24, com a sigla é um exemplo do que Secco afirma. Ela diz que atuou pela reeleição do ex-presidente Lula em 2006 e pensou “muitas e muitas vezes” em se filiar ao PT. Mas mudou de ideia após frequentar as reuniões de campanha.

“Me desanimei ao ver que o partido existia para ganhar as eleições. No pós-campanha não havia nenhuma ideia de seguir atuante com movimento de juventude ou popular”, disse. “E mesmo a juventude que ainda estava lá pensava muito nos cargos que teria quando assumissem”.

Quatro anos depois, Isadora filiou-se ao PSOL, sigla fundada em 2005 por dissidências petistas e que tem atualmente a maior proporção de jovens, 40,3%.

REGRA INTERNA

O próprio PT dá sinais de que enxerga o problema. Em 2011, o partido criou uma regra interna segundo a qual ao menos 20% dos dirigentes do partido têm que ter até 29 anos. Também deu mais autonomia à Juventude do Partido dos Trabalhadores (JPT).

“O PT envelheceu, precisa renovar suas ideias, apresentar candidaturas jovens e candidatos que defendam as pautas da juventude”, diz Jefferson Lima, secretário nacional da JPT.

Tribuna da Internet

Fundo do poço: Brasil tem o pior desempenho industrial do mundo

Raquel Landim
Folha


O Brasil está na lanterna da indústria global. A produção do setor registrou o pior desempenho no terceiro trimestre entre mais de 130 nações, que representam 95% da indústria no mundo. A indústria brasileira recuou 11% em relação ao mesmo período do ano passado. No fechado do ano, a queda deve ser de cerca de 8%.

O estudo foi feito pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) com base em dados reunidos pela Unido, órgão das Nações Unidas que também estuda o desenvolvimento industrial.

O resultado brasileiro é muito pior que a média da indústria global, que subiu 2,7% na mesma comparação. Nos países desenvolvidos, a produção industrial se recupera da crise e cresceu 1,2% no terceiro trimestre, enquanto nos países em desenvolvimento a alta foi de 5%.

PIOR DESEMPENHO

A América Latina tem o pior desempenho por região (-3,2%). Na América do Norte, houve alta de 1,8%, e, na Europa, de 2%. Na África, onde a indústria é incipiente, houve estagnação (0,1%).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Não há nenhuma novidade nessa espantosa reportagem. Há anos a economia do país entrou numa fase sinistra e a indústria mergulhou em queda livre. Já estamos em fase de desindustrialização e o governo simplesmente se fechou em copas. Para arranjar dinheiro barato, só resta o BNDES, que atende apenas aos amigos do Rei (ou da Rainha, aquela que não reina e finge que governa). Esta é a nossa realidade. (C.N.)


Tribuna da Internet

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Dilma insiste em empurrar a economia para o precipício

Vicente Nunes
Correio Braziliense
    

A combinação de desemprego em alta, inflação próxima de 10% e juros apontando para cima será regada à recessão. É possível que o Produto Interno Bruto (PIB) caia mais 3% em 2016. Na vida real, porém, a retração será muito maior. O resultado do PIB estará contaminado pelo impacto positivo do setor externo, que só está ocorrendo por causa da recessão. Como as importações desabaram muito mais que as exportações, o saldo positivo na balança comercial cria um efeito estatístico distorcido. O que importa, de verdade, é a queda da demanda interna. E essa derreteu pelo menos 7% em 2015 e deve encolher cerca de 5% no ano que vem.

Em meio a tudo isso, os brasileiros terão que viver com uma renda igual ou inferior à que se viu em 2010. Trata-se de um retrocesso sem precedentes em pelo menos três décadas. Por isso, muitos especialistas já trabalham com um quadro de convulsão social nos próximos meses. As ruas deverão ser tomadas, principalmente, pelas classes de menor renda, que estão vendo conquistas importantes se esvaindo.

Nem mesmo o Bolsa Família será suficiente para amenizar o mal-estar. Das transferências realizadas pelo governo às camadas mais pobres da população, ao menos 80% vão para a compra de alimentos. E esses, de tão caros, estão desaparecendo das mesas de muitos lares.

SEM TERRORISMO

Não há nenhum terrorismo em se traçar esse quadro. Essa é a realidade que nos aguarda. O governo acredita — assim como acreditou com Joaquim Levy — que o novo ministro da Fazenda será o salvador da pátria, uma “surpresa positiva”, como diz Dilma. Desejo e realidade, no entanto, não andam juntos no Brasil comandado pela petista. Até porque a presidente insiste em empurrar a economia para a beira do precipício.

Resta torcer para, quando 2017 chegar, que ainda estejamos de pé. A travessia será árdua, mas o Brasil já deu grandes demonstrações de que é capaz de superar adversidades. Nem Dilma Rousseff será capaz de impedir isso. Ela conseguirá, no entanto, tornar a vida de todos mais difícil. Será o preço a pagar pelo fato de as urnas, mesmo que com pequena diferença, terem lhe garantindo mais quatro anos de mandato.

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O bispo dos pobres, a caminho da beatificação

Bernardo Mello Franco
Folha


A ausência de brasileiros na lista de vencedores do Prêmio Nobel costuma ser apontada como um dos sintomas do nosso atraso. Muitos governos colaboraram para isso ao deixar de investir em pesquisa e educação pública.

Outros preferiram sabotar diretamente os candidatos daqui. Foi o que aconteceu com dom Helder Câmara, indicado ao Nobel da Paz nos anos 70, durante a ditadura militar.

Na semana passada, um relatório divulgado pela Comissão da Verdade de Pernambuco mostrou como o regime se mobilizou para impedir que o bispo fosse premiado. Os generais não perdoavam sua luta pelos direitos humanos, contra a tortura e a favor dos mais pobres.

A comissão localizou documentos secretos do Itamaraty sobre a campanha contra dom Helder no exterior. Telegrama de 1971 do embaixador Jayme de Souza Gomes, representante do Brasil em Oslo, comprova a existência de um “programa de ação contra a candidatura do arcebispo de Recife e Olinda”.

Uma das táticas da ditadura foi ameaçar empresários escandinavos, avisando que a premiação de dom Helder poderia “por em risco os capitais estrangeiros” no país.

JOGO BRUTO

No front doméstico, a perseguição era mais bruta. Em 1969, a repressão torturou e matou o padre Antonio Henrique Pereira Neto, auxiliar próximo do bispo. A imprensa foi proibida de noticiar o crime, que comoveu milhares de fiéis.

A censura impedia publicações sobre dom Helder, a não ser para criticá-lo. O escritor Nelson Rodrigues, defensor do regime, costumava chamá-lo de “ex-católico” e “arcebispo vermelho”. “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista”, reclamava o sacerdote.

Há oito meses, o Vaticano autorizou a abertura do processo de beatificação e canonização de dom Helder. O bispo não ganhou o Nobel, mas pode virar santo.

Tribuna da Internet