sábado, 3 de dezembro de 2011

Francês se espelha no sucesso de Obama

Patrick Lozès, 46, não é o primeiro candidato negro às eleições presidenciais francesas - a parlamentar Christiane Taubira, da esquerda mais radical, concorreu em 2002 e teve 2% dos votos. Mas é o primeiro que empunha a bandeira de "candidato da diversidade", sem pudores.

Graduado em farmácia, Lozès fundou o Cran (Conselho Representativo das Associações Negras da França) depois dos conflitos na periferia de Paris, em 2005. Foi presidente do órgão até maio.

Controverso pela posição marcadamente "centrista" e por ter deixado a defesa exclusiva da minoria negra, ele está longe de ser unanimidade mesmo entre a "diversidade" que diz representar.

Para concorrer na eleição de 2012, Lozès também fundou um novo partido, o Allez la France (algo como "Avance, França"), mas depende agora de recolher, até março, 500 assinaturas de eleitos para legitimar sua candidatura. Ele acredita que conseguirá.

Folha - Por que concorrer à Presidência em 2012?

Patrick Lozès - Meu engajamento tem raízes na profunda rejeição pelas discriminações. Os partidos franceses não levavam suficientemente em conta essas questões ou as tratavam de modo caricato.

Ser candidato é fruto de uma longa reflexão: eu represento uma voz única neste debate. Sei sobre o que falo quando falo da periferia.

Sua candidatura é uma resposta ao crescimento da extrema direita na França, principalmente encarnada na presidente da Frente Nacional?

Sou francês de origem africana e sou um patriota porque devo tudo à República. Já era tempo de que um exemplo de ascensão social como o meu fosse exposto aos que não acreditam. Quero olhar para o que há de positivo neste país. E ninguém tem o monopólio do amor pela França.

É claro que minha candidatura é antinômica à da Frente Nacional. É um movimento antirrepublicano. Marine Le Pen é ainda mais perigosa: ela se aproveita de uma imagem de respeitabilidade.

Seu projeto se tornou mais possível depois da eleição de Barack Obama, em 2008?

Obama trouxe um vento de modernidade. Sua eleição sacode a sonolência francesa e obriga seus dirigentes a prestar atenção à demanda legítima de igualdade.

Mas é claro que as coisas ficaram mais fáceis depois de 2008. Os americanos não elegeram só um presidente negro ou democrata, mas alguém que eles acreditaram competente para a tarefa.

Qual é o programa político do Allez la France?

É um partido de centro. Nosso projeto baseia-se numa visão vanguardista de nossa sociedade -nossas reservas de crescimento são todos os homens e as mulheres descartados da economia.

O Estado-providência faz parte do passado. É a iniciativa privada que nos permitirá retomar a via do crescimento, criando empregos e reduzindo a dívida pública.

FOLHA