Sandra Starling
O Tempo
Não chegam a me surpreender os últimos acontecimentos que fizeram com
que o PMDB, secundado por Joaquim Levy, assumisse assim tão facilmente o
governo do país.
Só me impressiona que a arrogante Dilma Rousseff se
preste a posar de rainha da Inglaterra, sem a altivez e a história
pessoal daquela, docilmente se entregando à árdua tarefa de inaugurar
unidades do Minha Casa, Minha Vida ou a voar para o Panamá, onde vai se
encontrar (sem pedido de desculpas deste, dizem) com o presidente Obama.
Onde está a tempestade de xingatórios com que outrora premiava seus
subalternos? Onde está a centralização com mão de ferro de todas as
decisões? Pode ser que a revelação da podridão dos descaminhos em tantas
estatais tenha feito soar sua campainha e lhe feito procurar
esconder-se por trás de alguém. Pode ser.
O que não poderia ter acontecido é o que vem acontecendo com os
trabalhadores brasileiros, logo eles, e logo num governo que se dizia de
seu partido, isto é, do Partidos dos Trabalhadores.
Gostaria de poder
ver neste congresso do PT, como vão explicar às lideranças a aprovação
que se anuncia no Congresso Nacional de um velho fantasma do movimento
sindical: a terceirização. Nem FHC ousou tanto. Seu projeto de “contrato
temporário de trabalho”, ao que consta das estatísticas, não chegou a
fazer o estrago que este, o das terceirizações, deverá fazer.
SEM JUSTA CAUSA
Em lugar de alcançar regulamentar o fim das dispensas sem justa causa
(eu erroneamente julgava ter sido proposta de autoria de Lula,
apresentada e aprovada na Constituinte, mas que na verdade foi por este
apenas defendida, já que seu autor foi o deputado João Paulo Pires
Vasconcelos), no governo dos “avanços” da sra. Dilma Rousseff damos
vários passos atrás e caímos na total precarização das relações de
trabalho. Você, trabalhador, será sempre constante, mas seu patrão,
eventual.
Se funcionar como a meu tempo no Ministério do Trabalho e Emprego –
onde denunciei que as empresas de terceirização não quitavam os direitos
trabalhistas ao fim do contrato –, a coisa ainda vai ser, no país, pior
do que já anda acontecendo.
Basta lembrar que no correr da semana que passou, o zeloso ministro
da Fazenda ainda tentou defender o seu nas negociações em torno da
questão e, mesmo tendo diminuição de arrecadação, logrou assegurar que a
empresa contratante seja a pagadora dos impostos federais devidos,
enquanto – ninguém se importou – o FGTS fica a cargo da contratada.
Jogo
feito e banca forte a indicar que essa parcela, por direito do
trabalhador, vai ser discutida na Justiça do Trabalho, se chegar até lá…
Pobres trabalhadores!
A julgar pelo descaso das centrais sindicais, excetuado o pequeno e
malconduzido protesto da CUT, todas estão preocupadas em garantir o
enquadramento sindical desses terceirizados, para continuar usufruindo
da tal contribuição sindical – um dia de trabalho, descontado em folha,
para a manutenção dos sindicatos e de si próprias. E ponto final.
Tribuna da Internet