domingo, 19 de abril de 2015

A RAINHA DA INGLATERRA E OS TRABALHADORES

Sandra Starling

O Tempo


Não chegam a me surpreender os últimos acontecimentos que fizeram com que o PMDB, secundado por Joaquim Levy, assumisse assim tão facilmente o governo do país.

 Só me impressiona que a arrogante Dilma Rousseff se preste a posar de rainha da Inglaterra, sem a altivez e a história pessoal daquela, docilmente se entregando à árdua tarefa de inaugurar unidades do Minha Casa, Minha Vida ou a voar para o Panamá, onde vai se encontrar (sem pedido de desculpas deste, dizem) com o presidente Obama.

Onde está a tempestade de xingatórios com que outrora premiava seus subalternos? Onde está a centralização com mão de ferro de todas as decisões? Pode ser que a revelação da podridão dos descaminhos em tantas estatais tenha feito soar sua campainha e lhe feito procurar esconder-se por trás de alguém. Pode ser.

O que não poderia ter acontecido é o que vem acontecendo com os trabalhadores brasileiros, logo eles, e logo num governo que se dizia de seu partido, isto é, do Partidos dos Trabalhadores.
 Gostaria de poder ver neste congresso do PT, como vão explicar às lideranças a aprovação que se anuncia no Congresso Nacional de um velho fantasma do movimento sindical: a terceirização. Nem FHC ousou tanto. Seu projeto de “contrato temporário de trabalho”, ao que consta das estatísticas, não chegou a fazer o estrago que este, o das terceirizações, deverá fazer.

SEM JUSTA CAUSA

Em lugar de alcançar regulamentar o fim das dispensas sem justa causa (eu erroneamente julgava ter sido proposta de autoria de Lula, apresentada e aprovada na Constituinte, mas que na verdade foi por este apenas defendida, já que seu autor foi o deputado João Paulo Pires Vasconcelos), no governo dos “avanços” da sra. Dilma Rousseff damos vários passos atrás e caímos na total precarização das relações de trabalho. Você, trabalhador, será sempre constante, mas seu patrão, eventual.

Se funcionar como a meu tempo no Ministério do Trabalho e Emprego – onde denunciei que as empresas de terceirização não quitavam os direitos trabalhistas ao fim do contrato –, a coisa ainda vai ser, no país, pior do que já anda acontecendo.

Basta lembrar que no correr da semana que passou, o zeloso ministro da Fazenda ainda tentou defender o seu nas negociações em torno da questão e, mesmo tendo diminuição de arrecadação, logrou assegurar que a empresa contratante seja a pagadora dos impostos federais devidos, enquanto – ninguém se importou – o FGTS fica a cargo da contratada.

 Jogo feito e banca forte a indicar que essa parcela, por direito do trabalhador, vai ser discutida na Justiça do Trabalho, se chegar até lá… Pobres trabalhadores!

A julgar pelo descaso das centrais sindicais, excetuado o pequeno e malconduzido protesto da CUT, todas estão preocupadas em garantir o enquadramento sindical desses terceirizados, para continuar usufruindo da tal contribuição sindical – um dia de trabalho, descontado em folha, para a manutenção dos sindicatos e de si próprias. E ponto final.

Tribuna da Internet