Pedro do Coutto
Ao entregar ao senador Renan Calheiros o projeto de Diretrizes
Orçamentárias para 2015, o ministro Nelson Barbosa, do Planejamento, ao
destacar a previsão de uma queda de 0,9% no PIB e dizer que o exercício
deverá fechar com uma inflação hoje estimada em 8,2%, confirmou
oficialmente que o país ingressou numa fase de recessão, segundo
reportagem de Marta Beck e Cristiane Bonfanti, O Globo de quinta-feira.
Ele próprio usou a expressão, já rejeitada certa vez pela presidente
Dilma Rousseff ao recriminar declarações feitas pelo ministro Joaquim
Levy, mas agora acentuada pelo titular do Planejamento. Quais poderão
ser as consequências? No plano político, uma fragilização ainda maior do
governo, elevando seu grau de dependência do Congresso e dos partidos
que aparentam um apoio que, aliás, não possuem nas ruas.
No plano
econômico, ampliar a retração do mercado de consumo, sobretudo em função
do temor que contamina grande parte da população em perder o emprego e
não ter assim como pagar as prestações assumidas.
A retração no consumo reflete-se diretamente na arrecadação de
impostos tanto os federais quanto estaduais e municipais. Nelson Barbosa
anunciou uma reação positiva no PIB de 2016, porém há uma distância
grande, no caso, entre o hoje e o amanhã. Isso de um lado. De outro,
traduzindo-se a afirmação de Barbosa, vamos verificar que o recuo de
0,9% no PIB deste ano equivale a uma receita financeira da ordem de 50
bilhões de reais, aproximadamente, já que o PIB situa-se numa escala de 5
trilhões (de reais) em números redondos. É muito dinheiro. Sobretudo
levando-se em conta que a massa salarial brasileira corresponde a cerca
de 40% do Produto Nacional Bruto, denominação que, no calendário
econômico, antecedeu o PIB, seu nome atual em uso.
RENDA EM QUEDA
Uma retração de 0,9%, este ano, significa uma queda no valor da renda
per capita, que nada mais é que o resultado da divisão do PIB pelo
número de habitantes. Hoje, portanto, na escala de 2,5 mil reais. Mas
que, em vez de subir, vai baixar até dezembro, pois o Produto Bruto
declinará 0,9% e a população aumentará 1%, já descontado o índice médio
de mortalidade, em torno de 0,7%. Em síntese: enquanto o PIB recua 50
bilhões de reais, a taxa demográfica acrescenta mais um milhão de
habitantes no território nacional. Um desastre, como se vê, com reflexo
direto no poder aquisitivo de todas as classes sociais.
Não incluindo os superricos, é claro, pois estes se fortalecem com as
elevações da Selic, que produz juros anuais de 12,75%, muitos degraus
acima dos índices inflacionários atuais.
Diante desse quadro desenhado por Nelson Barbosa, ao analisar a vida
econômica do país a partir da lente da recessão, qual poderá ser o
reflexo psicológico, e também lógico, dos assalariados? Consumir menos, é
claro. Inclusive porque as tarifas elétricas já subiram, o custo da
gasolina e dos combustíveis em geral também, os transportes em
consequência pelo mesmo caminho, fora outros aumentos que virão por aí. O
preço médio dos alimentos, por seu turno, sobe quase diariamente.
Como
focalizamos em relação a dezembro do ano passado.
Temos então, menos empregos, recuo do PIB, maior inflação oficial.
Três fatores extremamente negativos. Não existem, portanto, razões para
vermos um mar azul projetado para 2016. Pois o tempo passa depressa e as
soluções custam a aparecer. É isso aí.
Tribuna da Internet