Luiz Tito
O Tempo
O afastamento da presidente Dilma Rousseff da frente de
relacionamento com sua base política no Congresso e a entrada no jogo do
vice Michel Temer foram ações que deram ao governo lampejos de
calmaria.
Dilma no comando das relações políticas sempre se revelou um
desastre, pelo que faz ou não, pelo que fala ou não, pelo que escolhe ou
não escolhe.
A política de coalizão, sustentada durante o último
período eleitoral para reforçar a vitória do PT não conseguiu se impor
como realidade, especialmente no plano federal, porque o leme estava em
mãos erradas. Foi preciso que a embarcação emperrasse na areia para que
acordasse quem podia mudar a rota.
O PT, como partido de vocação hegemônica, não facilitou como deveria
essa construção, a da coalizão, e deixou seus parceiros ao vento, como
meros espectadores. Esse descompasso gerou o engessamento da máquina
pública, a dependência moral a que tudo se submete pelos resultados da
extensa operação Lava Jato, ainda não conhecidos integralmente.
Acentuou-se ainda o dano que é a falta de um projeto Brasil em torno
do qual se una a sociedade brasileira, as instituições e o empresariado
para fazerem o país navegar em mar seguro.
Essa carência é do governo e
das oposições, que só tem como bandeira a tese do impeachment da
presidente.
A oposição é o samba de uma nota só.
APENAS UM PROJETO
O único projeto nacional que está no ar é o combate à inflação, que
não é mais uma ameaça, é uma realidade.
Séria e importante, mas
equivocadamente tocada, já que a cada medida, mais se enrijece o
consumo, majorando as tarifas públicas, restringindo o crédito e o
fomento à produção, mas deixando aberta a porta dos bancos, sempre mais
ricos porque a esses nada afeta, deles nada se exige e a eles tudo se
protege.
O sistema financeiro brasileiro, público e privado, nada acima
da maré. Nunca foi chamado a contribuir e talvez essa seja a grande
injustiça social de todos os governos. Os bancos esfolam a sociedade,
esfolam a economia pública, crescem e nunca comparecem para ajudar.
São
do tipo dos que, à chegada da conta, vão ao banheiro e saem antes para
nem dar carona a ninguém da mesa.
Tratados sempre como periódicos, os programas dos partidos têm que
ter a coragem de incluir nas suas agendas a discussão sistemática de um
Brasil que seja mais possível, mais durável.
Assiste-se à nervosa
movimentação de setores do sindicalismo gritando pela manutenção ou
inclusão de privilégios na legislação laboral, que são estúpidos
compromissos.
O seguro desemprego, por exemplo, da forma como se acha
concebido, é um desastre contra a economia pública, contra a produção e
contra as próprias relações de trabalho.
A remuneração e a aposentadoria de alguns setores do serviço público,
do Executivo, Legislativo e do Judiciário, têm que ser urgentemente
revista porque em muitos casos ela é imoral e insustentável. Dinheiro
público ou privado não se inventa.
Tem que ser gerado e gerido com
competência, com responsabilidade, com grandeza.
Não é para ser roubado,
pela corrupção e pela manutenção de privilégios. Nem para ser corroído
pela inércia da falta de governos ou seus sistemáticos.
Tribuna da Internet