Mauricio Puls
Folha
Leonel Brizola (1922-2004) sabia o que precisava fazer para se tornar
governador (venceu as três eleições que disputou), mas nunca conseguiu
chegar à Presidência. Por quê?
Escrito por Clóvis Brigagão e Trajano Ribeiro, “Brizola” (editora Paz
e Terra) fornece pistas valiosas para entender o que deu errado. O
livro não é propriamente uma biografia, mas um testemunho de dois
assessores sobre sua volta ao Brasil.
Para rebater as críticas de que o líder gaúcho “não tinha
estratégia”, eles dão exemplos de sua capacidade de avaliar o cenário
político.
O caso mais impressionante ocorreu na sua eleição para governador do
Rio, em 1982. Quando todos acreditavam que a disputa seria vencida por
Sandra Cavalcanti ou Miro Teixeira (candidato do governador Chagas
Freitas), Brizola intuiu que seu grande adversário seria o candidato do
governo federal.
Na época, o regime militar ainda nem tinha um candidato –tentara
lançar o ministro Mário Andreazza, sem êxito. Mas depois se fixou no
então prefeito de Niterói, Moreira Franco.
UM PACTO
Contudo, em vez de atacar Moreira, Brizola o procurou. Propôs um
pacto: disse que o favorito era Miro, mas este não deveria ser o alvo
inicial. Brizola se dispôs a atacar o candidato do PT (Lysâneas Maciel)
para ganhar o eleitorado de esquerda, enquanto Moreira atacaria Sandra,
para conquistar a direita. Miro ficaria para depois.
A estratégia deu certo: Sandra e, depois, Miro caíram nas pesquisas.
Moreira assumiu a liderança, mas na reta final Brizola o ultrapassou – e
acabou vencendo a eleição.
Apesar dessas apostas certeiras, Brizola não conseguiu “o que mais
desejava”. O novo PDT nunca adquiriu a dimensão alcançada pelo velho
PTB, e parte da culpa cabia ao próprio Brizola: a sutileza política que
exibia nas eleições regionais desaparecia na articulação de sua
candidatura à Presidência.
DESERÇÕES
Centralizador, excluía sumariamente políticos ou auxiliares aos
primeiros atritos. As deserções de aliados importantes eram rotineiras.
Tomava decisões que, embora atraentes no curto prazo, mais tarde se
revelavam cheias de problemas. Expulso do Uruguai em setembro de 1977,
recebeu ofertas de abrigo em Portugal e Argélia, porém insistiu em pedir
asilo aos Estados Unidos, onde não era bem visto (tinha expropriado
duas empresas americanas quando era governador gaúcho).
Sua solicitação foi levada diretamente ao presidente Jimmy Carter,
que a aceitou. A iniciativa de Brizola constrangeu a ditadura
brasileira, mas enfraqueceu sua retórica anti-imperialista – tanto que,
meses depois, ele se mudou para Portugal. Só então pôde voltar a
criticar os EUA por terem coordenado o Golpe de 1964 “para evitar a
aplicação da Lei da Remessa de Lucros, que poria termo à espoliação do
Brasil pelas empresas multinacionais”.
(artigo enviado pelo comentarista Mário Assis)
Tribuna da Internet